quinta-feira, 30 de dezembro de 2004

À Simplicidade!

Ocorreram-me várias idéias de temas para encerrar as publicações deste ano. Fiquei em dúvida entre retrospectiva 2004, um alerta sobre as notícias que os jornais não dão, ou uma continuação do texto passado. Mas, nenhuma delas era boa o bastante para me inspirar e escrever de imediato. Até que ontem à tarde, saindo do MS Notícias, indo para casa, aconteceu algo que valia a pena escrever e encerrar o ano com chave de ouro.

Eu saí às 18h50 de site, 20 minutos a mais do que o horário normal. Fiquei preso no trabalho com orientações do meu chefe que iria viajar e deixar tudo em nossas mãos. Além disso, minha cabeça doía e a vista estava cansada (acho que do computador que está desconfigurado). Andei minhas dez quadras sagradas e sentei no ponto para esperar o ônibus. Estava "exausto" e mal-humorado ("sem-motivo"). Tomei cuidado para sentar bem na ponta do banco, pois na outra ponta tinha um bêbado sentado.

Ele aparentava ter uns 50 anos, era baixo, muito magro, e o cabelo era bem engraçado. Já o tinha visto outras vezes naquele mesmo ponto. Agora eu reparava em seu cabelo e me incomodava com o cheiro que ele exalava. Não devia tomar banho há dias. Ele engatou um cochilo. De repente um homem negro de uns 30 anos deu uma cerveja para o bêbado e disse: "toma rápido que eu quero a lata". Vendo que o bêbado ia demorar a beber a lata, o homem catou sem cerimônia um copo de plástico que estava jogado no chão. Tomou a lata "do amigo" e encheu o copo. Devolveu-o com a cerveja, pegou a lata jogou com força o resto do líquido no chão (quase no meu pé) e saiu correndo entre os carros. O outro meio sem entender gritava "Obrigado". Eu fiquei irado com a possibilidade de a cerveja ter pegado no meu pé, mesmo vendo que não pegou.

O Bêbado feliz com o copo de cerveja, mal se agüentava, a mão trêmula virava o copo. A cerveja estava gostosa. "Essa tá até gelada", disse ele. Pensei na quantidade de outras cervejas que ele já bebeu. Imaginei-o bebendo resto de cerveja quente que as pessoas deixam nas latas. Eu olhava pra ele, então achou que podia travar um diálogo comigo. "Esse cara é meu amigo ele sempre me dá cerveja", disse. Disfarcei e olhei para o horizonte nos túmulos a frente, e fingia não escutar. Precisava reafirmar a distância que existia e a barreira que nos separava.

Então, ele agradeceu a Deus por "tudo que tem" e disse que graças a ele consegue tudo. Todo feliz lembrou que agora tinha uma cerveja e uma pinga que estava em uma garrafa de água mineral ao seu lado no banco. Uma senhora chegou no ponto, ela caminhava com dificuldade e como eu virei a cara, ela, ao contrário de mim, sentou bem perto do bêbado. Como eu fechava caminho pro diálogo, com ele ela poderia conversar. Ela segurava um copo de café que exalava vapor e debaixo do braço tinha uma vasilha de sorvete que eu não consegui ver o que tinha dentro.

"Tá escurecendo tarde né"?, falou ela ao bêbado que só balançou a cabeça e perguntou como ela tinha ido de festa. A velhinha usava saia florida, blusa branca e prendia os cabelos brancos com muitos grampos (penteado que se usado por uma adolescente significaria modernidade e estilo para ela representava velhice e decadência). A senhora disse que dormiu e não foi a festa. Ela perguntou se o bêbado ia a Casa da Sopa, onde distribuía comida. O bêbado respondeu que ia. "É ali em cima né", falou ele. A velha confirmou que sim e se lamentou por ter acabado.

De repente o bêbado viu uma conhecida dele, gritou seu nome e foi falar com a mulher. A mulher estava com uma amiga, envergonhada e sem jeito falava com o bêbado. As pessoas do ponto ao lado esperavam seus ônibus alheios aos acontecimentos. Mortas como os que residiam ali no Cemitério Santo Antônio. Sem o bêbado por perto a senhora puxou papo comigo. "Coitado tão magrinho, isso é coisa da bebida", lamentou. Eu só sacudi a cabeça cortando o papo. Então ela retrucou: "Quer café? Está quentinho!". Eu agradeci me levantando para pegar meu ônibus que encostava. Nem me dei o trabalho de olhar para trás, mas quando entrei no ônibus ela me deu tchau.

Quentinho mesmo era o coração daquela velha humilde que comia sopa dada pelo governo. Ela tinha dó do bêbado. Eu tinha dó dela, e provavelmente outro que assistia a cena sentia dó de mim. O bêbado agradecia por "tudo que tinha", enquanto eu reclamava e lamentava da minha vida. Ele reconhecia o "amigo" que lhe deu algo (mesmo sendo veneno, pra ele era remédio) eu esquecia de agradecer pelo que tinha e não reconhecia ninguém que me ajudou. Meu coração era gelado como a cerveja. E eu tinha muitas cerimônias. "Pessoas assim não tinham que estar no meio de gente", pensava a mulher ao meu lado. No entanto, eles é que são gente.

Que vêem a felicidade nas pequenas coisas, que agradecem os pequenos gestos e que querem dividir o pouco que tem. E mesmo com a resistência de coração gelado de um adolescente orgulhoso e mal-humorado se despede na sua simpatia cativante. Isso é que é gente. Aí pensei que quanto mais sofisticados somos, mais orgulhosos ficamos. Perdemos essa simplicidade, humildade, pureza. Ficamos cheios de não-me-toques. Não olhamos para o outro. Nem damos "Bom Dia" para estranhos. Se eu comesse algo jamais dividiria com aquela velha com cara de pobre. Jamais daria "Tchau" pra alguém que mal me olhou. Ela queria companhia, e eu não era a "pessoa" certa.

Então agora quando as luzes ascenderem lá no céu e o relógio marcar meia-noite vou pedir simplicidade para que as pessoas se tornem verdadeiramente humanas. Vou brindar à simplicidade e vou buscar a humildade. Assim terei certeza que serei muito feliz em 2005.

Entre Aspas: Receita do Ano Novo

Para você ganhar um belíssimo ano novo cor de arco-íris, ou da cor da sua paz. Ano Novo sem comparação como todo o tempo já vivido (mal vivido ou talvez sem sentido) Para você ganhar um ano não apenas pintado de novo, remendado às carreiras, mas novo nas sementinhas vir-a-ser, novo até no coração das coisas menos percebidas (a começar pelo seu interior) novo espontâneo, que de tão perfeito nem se nota, mas com ele se come, se passeia, se ama, se compreende, se trabalha, Você não precisa beber champanhe ou qualquer outra birita, não precisa expedir nem receber mensagens (planta recebe mensagens? Passa telegramas?).

Não precisa fazer lista de boas intenções para arquivá-las na gaveta. Não precisa chorar de arrependimento pelas besteiras consumadas. Nem porvamente acreditar que por decreto da esperança a partir de janeiro as coisas mudem e seja tudo claridade, recompensa, justiça entre os homens e as nações, liberdade com cheiro e gosto de pão matinal, direitos respeitados, começando pelo direito augusto de viver.

Para ganhar um ano novo que mereça este nome, você, meu caro, tem de merecê-lo, tem de fazê-lo de novo, eu sei que não é fácil, mas tente, experimente, consciente. É dentro de você que o Ano Novo cochila e espera desde sempre. Carlos Drummond de Andrade

Abraços...Um pouco de pozinho de pirlimpimpim para todos. Um ano novo cheio de realiazações para todos, então em 2005 Vamos à Luta! PARANGARICOTIRIMÍRRUARO!!!

guilherme - 17:32:55
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quinta-feira, 23 de dezembro de 2004
Para onde caminha a humanidade?



Filho único, sempre tem mais tempo para a imaginação. Inventar brincadeiras, desvendar formas de passar o tempo em ótima companhia (a própria). Meu quarto é um universo paralelo construído com a criatividade aguçada de quem teve muito tempo sozinho para pensar. Mas, não se engane. Não fui uma criança triste e solitária, brinquei na rua com os outros moleques, subi em árvores, brinquei de pega-pega, esconde-esconde, porém meu mundo era o meu passa-tempo predileto.

Quando estava em meu quarto surgiam divagações normais como da onde viemos? De Deus. Mas da onde surgiu Deus? Da explosão de Big Ban. Mas, da onde surgiram as substâncias que geraram a explosão. Se o universo era um "nada" como surgiu a primeira substância? Hei, e da onde surgiu esse "nada"? Depois de tentar achar milhões de possibilidades, desisti. Mais tarde, achava que todo ser humano acabaria descobrindo isso durante a vida. Hoje, diante da "minha experiência de vida" compreendo que neste plano jamais entenderemos da onde surgimos - E existe outro plano? Não faça perguntas difíceis. Eu acredito que SIM. Eu tenho que acreditar nisso. Todas as minhas indagações têm que ter uma resposta.

Voltando ao mundo real (mas não muito), pergunto para onde caminha a humanidade? O que move as pessoas? O que elas buscam? O que querem da vida? O que as faz feliz? Cada um tem seu ideal, afinal somos diferentes uns dos outros, porém não o suficiente para termos objetivos contrastantes. No fundo o que todo ser humano quer é a felicidade. Falando nela, o que você tem que fazer hoje e o que tem que acontecer na sua vida, para quando você chegar aos 60 anos dizer "eu consegui ser feliz!"?

Para muitos a felicidade é ter um trabalho estável (de preferência em órgão público), compor uma família, ter amigos, se aperfeiçoar constantemente. Todavia, essa busca pela felicidade só é alcançada por essas pessoas através do bem-estar social. Que por sua vez só é atingido com dinheiro. Então por mais que goste da família passa o menor tempo possível com ela para ir em busca de mais e mais dividendos.

Para promover o bem-estar e ficar bem com a família atingindo a felicidade sacrifica-se e trabalha cada vez mais. Caminha não para a felicidade e sim para a exaustão e depressão. Dorme poucas horas, não sabe o que é lazer e torna-se uma pessoa irritada e sem sentimentos. A ambição toma conta do ser que acaba egoísta e longe da família. No trabalho por mais que se afeiçoe com os colegas, eles são estranhos e concorrentes, a família é o ninho. Com os amigos, apesar da cumplicidade tenta sempre parecer melhor do que realmente é. Nesse círculo social com quem realmente se relaciona? Quem faz bem? Será que olha para as pessoas com quem passa a maior parte do tempo? E será que valoriza a família?

A humanidade caminha para o egocentrismo, onde cada um busca apenas o próprio bem. Onde a estrada é única e não cabe mais um. É unilateral e não permite relacionamentos mais profundos. Não sobra tempo para divagações em busca da "descoberta da existência" quanto mais se preocupar com o outro.

Para onde caminho ainda não sei. Sei que não quero esse caminho torto e solitário. E da vida só que quero mais vida para ser feliz. E você o que quer da vida? E para onde caminha? (já parou pra pensar?)

Feira Central: A Rua Abrão Júlio Rahe está em obras. No lugar, bate uma desolação, há sujeira por todos os lados, homens limpado, outros fazem barulho ao tirar azulejos da parede. Parece um local recém bombardeado, parece uma guerra. Guerra onde o progresso venceu e não deixou vida, só destroços, mas o cheiro da feira ainda está no ar (o lugar tem cheiro de espetinho). As obras da Igreja Universal estão adiantadas, a terraplanagem está pronta. Falta uma placa de "Em Construção" no local. Falta saber o quê?

Nova "Feira Central": Na chegada a história da Vila dos Ferroviários e a Estação Ferroviária, que foram inseridas novamente na vida dos campo-grandenses tentam convencer que a mudança foi válida. Até os Paralepípedos foram reformados. A placa de "Feira Central" tenta te transportar, mas se não fosse a placa jamais saberia que aquele lugar é a feira central. Banheiro higiênico, limpadores de rua, barracas de comida e verduras com boa estrutura, mas o mármore não combina com o abacaxi. O colorido e a variedade de frutas e verduras não combinam com o concreto e a padronização tubular. E de repente o que vejo: o camelódromo?!!! Sim. Artigos importados do Paraguai em bancas de concreto de portas amarelas, cobertas de lona e com teto de zinco, esse é o camelódromo. Isso é qualquer coisa menos a feira.


Ana/ Marina: O meu problema com natal é só pelo fato de ser a única época que as pessoas se redimem de seus pecados e ficam bondosas e humildes. "Pelo menos uma vez no ano", pra mim não existe ou você é humano durante todo ano, ou você é um hipócrita sentimentalista de véspera de natal!

Entre Aspas: Para um novo ano

Há uma aflição, uma urgência no ar. Não sei bem que fenômeno psicológico ou parapsicológico acontece com a contagem dos meses, mas o fato é que a proximidade do final do ano tem um efeito especial, quase devastador, nos seres humanos. São sensações profundas existenciais, que nos levam a acreditar que, com o final do ano, devemos tomar todas as providências que não foram tomadas ao longo do ano. Desde a visita ao dentista, a nova decoração, passando por eventuais cirurgias plásticas ou até malhação explícita, no intuito de estar com tudo em cima até o Réveillon. Tudo isso e mais as tarefas normais que antecedem o Natal fazem com que as pessoas entrem em parafuso.

A sensação é de que um gongo vai soar em dezembro, pondo fim em uma etapa da vida e, antes disso, precisamos expurgar todos os pecados, cumprir todas as promessas que fizemos no início do ano. A lista de coisas a fazer é imensa. E na maioria das vezes serve para alimentar nossa sensação de incompetência que, claro, vêm de uma certa onipotência, da fantasia de ter o controle de tudo e de todos.

A culpa, portanto, vira nossa companheira mais constante nestes dias que antecedem a virada do ano. Ou alguém vai dizer que consegue cumprir tudo, tudo mesmo que se propôs no ano que passou? Por isso, o início de um novo ano é tal qual um caderno em branco, e nele desejamos escrever apenas as boas coisas, mas, infelizmente, não adianta traçar grandes metas nem selar compromissos com o futuro (o que de certa forma é um alívio!). Temos que acreditar que o futuro já chegou, é hoje, é agora. Todos os dias.

A pessoa que sou pode não ser a que eu gostaria de ser, mas é o que tenho. Não sou perfeito, maravilhoso, fascinante. Sou igual a tantos, imperfeita como todos. E isso sim é bom é confortante, é real. O mundo não está precisando de seres perfeitos, mas de gente mortal, falível. O mundo precisa de pessoas mais sensíveis amorosas umas com as outras, mais tolerantes consigo e com seu semelhante e, sobretudo, generosas. O mundo, minha gente, está carente de bondade. E de beleza. Não a beleza estética conseguida através dos milagres científicos, mas da beleza interior.

Por tudo isso, bem que poderíamos fazer algo diferente neste final de ano. Poderíamos modificar as tradicionais promessas e pedidos. Que tal hastear a bandeira de trégua, da paz, entre as pessoas, começando pelas mais próximas? Que tal valorizar o que a gente é, sem se remoer pelo que poderia ter sido e não foi? Que tal abandonar a onipotência e acreditar na humildade? Que tal pedir e se esforçar para ser uma pessoa melhor? Que tal abandonar a superfície e mergulhar no fundo da nossa alma e descobrir que existe, sim, um ser humano bom e sensível?
E que tal abraçar mais pessoas (ao menos uma por dia) durante o ano? Só, com este ano, poderíamos fazer 365 pessoas felizes. Isso é, bem melhor do que acumular ressentimentos e culpas por não ter alcançado o impossível. Vamos preencher o caderno em branco com nossas dádivas. Não com falsas esperanças. Thereza Hilcar (colunista do Correio)

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15 de dezembro de 2004
X-Tudo


A Feira Central de Campo Grande está de malas prontas para mudança. O progresso mais uma vez derrota a história e coloca um ponto de interrogação na tradição. Há 38 anos na Rua Abrão Júlio Rahe, entre Pedro celestino e Padre João Cripa, a "feirona" faz parte da cultura campo-grandense.


Cultura bem variada, regada ao sabor de sobá e Coca-Cola. Colorida com os importados do Paraguai. O artesanato, as peças hippies, adornos pantaneiros, frutas, verduras, revistas, CDs e DVDs dos mais variados tipos. Cada barraca é uma surpresa e representa bem a variação cultural dessa jovem Capital.


Estamos prestes a ver tudo acabar, as barracas de lona se transformarem em tubulares. A variedade em padronização. E tudo que era diverso ficar igual. Um "shopinsinho" ou um grande camelódromo? Já pensou um circo em estrutura de concreto, que graça teria? Que feira é essa, sem o monta e desmonta, sem a lona, sem a diversidade, sem a poesia, sem a magia.


Tá certo que vai ter estrutura (banheiro, rede de esgoto, espaço para shows). E que vai ficar em outra área histórica: a Estação Ferroviária. Região que vai sendo remodelada e o passado em decadência vai virando espaço turístico pós-moderno. Mas e a feira antiga? Vira templo da Universal, que cura os encostos e sufoca a cultura. Assim como comprou a Rádio Ativa e o Albano Franco por promoverem a cultura mundana. Pega o dinheiro dos fiéis para comprar a área vizinha da feira para espantar a freguesia. Só assim o "bem" reina Resta saber qual o próximo passo da Indústria Universal. Qual será o próximo reduto cultural que será extinto para atender aos caprichos de Edir Macedo.


O prefeito que vende asfalto e "urbaniza" córregos "dialoga" com os feirantes: "A feira vai mudar, quem vai ser o primeiro a pagar o carnê?". A sociedade mais uma vez assiste apática aos acontecimentos. Afinal não é mal-educada, se não foi chamada para que se meter?


Porém, nada é completamente ruim: A reurbanização da área da Estação Ferroviária é meu sonho antigo. Sempre imaginei o que chamo de "centro velho" transitável e agradável. A Rua Abrão Júlio Rahe em dias que não tinha feira é feia, suja e cheia de lonas no muro. Mas os pontos positivos não anulam a descaracterização e a perda da tradição da feira.

Nesses últimos dias o movimento de pessoas é grande na feira. Jovens de férias escolares fazem do local ponto de encontro. Senhoras compram as verduras para semana. Homens e mulheres batem papo com os amigos ao sabor do tradicional sobá. Crianças se encantam com a variedade de brinquedos e doces. A feirona palco de encontro de gerações, raças e níveis sociais está de mudança. Hoje é o último dia, é hora de reservar um tempinho e dar uma passada na Rua Abrão Júlio Rahe para se despedir desse lugar mágico.

Coincidências - Primeira: Ontem escrevi esse texto falando de Igreja Universal e quando chego na UFMS para assistir aos projetos experimentais de conclusão de curso me deparo com um vídeo-documentário sobre a Igreja. Segunda: Em uma parte do vídeo as meninas gravaram com uma câmera escondia a exorcização dos demônios feita dentro da igreja. Em dado momento o pastor diz: "Queima, queima Jesus (...) Manifesta demônio!", depois de cinco segundos acaba a luz. Imagina aquela federal num breu total? Me converti na hora para Igreja e vou hoje me exorcizar. Eles têm o poder. Vai dizer que não?!


Dia de Campo: No último sábado fui à fazenda San Francisco em Miranda para abertura da colheita do arroz. Como é fascinante o mundo rural. Conhecer novas culturas é ótimo, ainda mais ao lado de uma companhia tão agradável quanto da Manu. Passa mos pelo Restaurante Pioneiro (próximo a Miranda) um charme: posto de gasolina, pousada e loja de artigos pantaneiros, com animais de pelúcia. Um mural cheio de fotos de celebridades que já passaram por lá na parede.


A fazenda San Francisco é um sonho. Um arrozal imenso, com tuiuiús, garças, búfalos e gado de raça. Além da reserva florestal. Cadeiras na sombra do manguezal para relaxar e curtir a paisagem. Decoração rústica e comida boa...


Não tenho muito contato: O que eu dizia sobre o amigo oculto? Foi interessante ver as panelinhas interagindo. Lembrar que aquela pessoa do outro canto existe e tentar adivinhar o que vai agrada-la. A "união" e o "contato" com o outro deveria existir durante o ano todo e não só no m~es do natal.


Natal: Como é consumista essa data. O espírito natalino me enoja. A harmonia e a solidariedade são vendidas junto com as roupas de marca. Estão na moda assim como o boné e a minissaia. As luzes e os enfeites são os mesmos do ano passado e "enfeitam" as ruas. Querem imprimir o espírito natalino e irromper os corações mais duros. Pra que tanta luz para promover a humanidade? Se é na escuridão onde nasce morre a fome!


Mas meu nojo é tão hipócrita quanto o espírito natalino. Já fiz minhas compras de natal para gastar o 13º salário (e aquecer o comércio), já troquei presentes de amigo óculo, já montei a árvore de natal e ascendi o pisca-pisca. O espírito humanista e solidário já tomou conta de mim. Já faço o saldo do ano. Me orgulho de alguns atos e me arrependo de muitos outros. Então é natal, e eu não resisti. Já que é assim, vamos desejar as mesmas coisas boas que desejamos no ano passado e tentar acreditar que esse espírito de bondade vai durar o ano todo. Que os homens vão ser melhores e vão olhar mais para o próximo, assim com Jesus (lembram dele?) nos ensinou.

Não pense que vai se livrar de mim nas férias, continuarei com as publicações.

Entre Aspas: A cada dia que vivo, mais me convenço de que o desperdício da vida está no amor que não damos, nas forças que não usamos, na prudência egoísta que nada arrisca, e que, esquivando-se, perdemos também a felicidade. Carlos Drummond de Andrade.

quinta-feira, 21 de outubro de 2004

O Diário da Visita*

Jornalismo cinco estrelas*****
O Diário da Visita*

Domingo, 26 de setembro, 8 horas, Maureen, seu pai Clormes - nosso motorista - e eu, Guilherme, nos encontramos próximo a UFMS com o destino lixão. O objetivo era encontrar crianças que trabalham no local. Fomos nos afastando do centro da cidade, e à medida que avançávamos as casas eram mais simples, as pessoas que víamos pela janela eram mais humildes.

Chegando no Dom Antônio, um dos bairros mais pobres da cidade, nos deparamos com o lixão no horizonte. Era dia de feira no bairro, havia muitas pessoas na rua, de repente acaba o asfalto, casas agora só de papelão. Fim das casas, começo de entulhos e tão almejado lixão. Antes de chegar percebemos uma família que ia a nossa frente em uma bicicleta. Um homem, uma mulher e uma menininha que provavelmente não teria mais que cinco anos. Eles chegaram no entulho e já foram catando pedaços de madeira. A menininha ajudava.


Filmávamos de longe quando um simpático senhor nos convidou para entrar. Entramos no centro de aterros em frente ao lixão e depois de nos apresentarmos, dissemos o motivo que nos levara até ali: um trabalho de faculdade. Fizemos o mesmo ao chegarmos próximo da família, pedimos permissão para fazer algumas perguntas e filmar e o homem se negou a responder veementemente. Sua mulher parecia querer responder as questões, mas ele foi irredutível mesmo depois de nossas explicações.


Seguimos. Um homem trabalhava despejando dejetos de comida. Conversamos com ele que permitiu a filmagem. Foi uma conversa rápida onde soubemos que ele trabalha há dez anos nisso e ganha em torno de R$ 180 mensais. Disse que têm filhos, mas não leva para ajudar no trabalho. Afirmou que depois da fiscalização não há mais crianças ali. Seguimos, o cheiro já nos incomodava. A Maureen começava a tossir.

Chegamos ao fim do aterro e retornamos. Garças brancas se misturavam a paisagem de muito lixo e fumaça de galhos que queimavam ali perto. Cavalos se alimentavam. Na volta, resolvemos conversar com a família da menininha novamente. Desta vez, sem câmera. O homem respondeu as perguntas apreensivo: "Isso não vai me comprometer né?", questionou. Ao convencê-lo que não, respondeu que era gari e estava alí apenas para pegar madeiras. Não trabalhava no lixão. A mulher era dona-de-casa e achava dificuldade em matricular a filha de 6 anos em uma creche. "Agora ela já tá na escola, mas foi bem difícil conseguir", disse. O casal mora no Vespasiano Martins, bairro pobre que fica na mesma região, mas um pouco distante dalí. Tivemos que nos contentar com a entrevista apenas "in off".

Resolvemos ouvir as histórias do senhor que nos convidara a entrar no aterro. Foi quando começou o momento mais difícil da viagem. Um homem moreno, alto e gordo me disse que não podia filmar ali, e pediu que a Maureen parasse de gravar. Explicamos o nosso trabalho e ele disse que não tinha jeito: "pegou filmando ou fotografando apreendemos a máquina". Quase em desespero, dissemos que éramos estudantes. Ele disse: "Então hoje a gente apreende e segunda vocês trazem uma carteirinha que comprovem que são estudantes". Apresentei minha carteirinha do passe do estudante. Ele nos chamou para uma conversa dentro da guarita. Apesar de ser do outro lado da rua, Maureen disse que iríamos de carro. O "fiscal" de nome Vander concordou. O senhor ficou nervoso ao ver o fiscal e disse que nos preveniu para pedirmos autorização. No carro, Maureen trocou a fita com imagens por outra virgem.

Na sala, que cheirava mal e tinha revistas e pôster de mulheres nuas, o "fiscal" disse que faríamos um "acordo". Não tomou a câmera, mas tentou nos persuadir e amedrontar. Percebi os olhos de Maureen marejados. O homem disse que corríamos perigo no aterro. "Eles não gostam que filme podiam tomar a câmera e sair correndo", disse. Completou dizendo que para entrar lá precisava de autorização. Assustados e indignados fomos embora com a câmera. Depois a Maureen disse que ele pegou uma arma de uma gaveta e a guardou em outra.

Agora, iríamos rodar pelo D. Antônio atrás de crianças que trabalham. Vimos um menino em cima de um cavalo que cuidava de uma boiada. Ficamos com medo das vacas e só eu desci do carro. Mas tive receio de aproximar-me dele. A Maureen o chamou. Em cima do cavalo ele respondeu com tranqüilidade nossas perguntas. Disse que cuidava 40 cabeças de gado, que pertenciam a seu pai. Todos os dias pela manhã e que gostava de fazer isso. Aos 16 anos, ele estudava a noite.

Já próximos das casas vimos dois meninos procurando algo no lixo. Ao serem questionados disseram que procuravam pastas para usar na escola. Mostraram três que já haviam encontrado. Os dois tinham 11 anos e disseram ir quase todos os dias procurar coisas no local. "Um amigo meu já achou até um vídeo game", disse um deles. Os pais estavam cientes que os meninos estavam alí, segundo os dois. Mais à frente, uma "reunião" várias crianças e alguns adultos. Crianças que se dirigiam para o local disseram que lá eram distribuídos doces. Percorremos as ruas do bairro, em uma casa havia algumas pessoas reunidas na "calçada". Maureen desceu do carro e foi conversar com eles. Desta vez, eu permaneci no carro. Ví o nosso ex-colega de faculdade o Pastor José Carlos Prado. Candidato a vereador ele percorria as ruas do bairro e visitava as pessoas que assistenciava. Falei com ele que nos levou a casa de um homem que trabalha no lixão.

Edson Silva, humilde, mas orgulhoso de seu trabalho, disse que vai todo dia ao lixão. Contou que agora não tem mais crianças trabalhando lá, pois há fiscais e até policiais. Com três filhos, de 5, de 4 e o mais novo de 1 ano, tinha a mulher esperando mais um filho. As crianças se encantaram com a câmera. Era uma casa bem humilde. Edson disse que os filhos não vão ao lixão, mas não estudavam ainda, porque não conseguiu vagas na escola. A renda mensal da família varia muito, mas era em torno de R$ 200 mês, segundo ele. Que disse que todo dia trás algo para os filhos. "Eu chego e eles já vêm me atropelando, revistando meus bolsos e procurando por algo". Um dos filhos usava uma corrente achada no lixão, o pai fazia contas em calculadora de lá também, e o filho do meio brincava com uma espada quebrada. O homem nos mostrou uma caixa cheia de brinquedos que as pessoas haviam jogado no lixo. Bichinhos de pelúcia, espadas, carrinhos, homenzinhos, etc.

Já se aproximava das 10 horas, horário em que marcamos uma entrevista com uma menina de 14 anos, no bairro Universitária, na casa de sua tia. Ela tinha ido passar o domingo lá, já que morava no Jd. Aero Rancho. Aos 14 anos trabalhava na campanha política de Vander/Agamenon. Distribuía santinhos, fazia bandeiradas, e às vezes tinha que ir a comícios e reuniões que aconteciam à noite. Disse que gostava de trabalhar e já queria trabalhar, mas ninguém dava emprego para menores de 16 anos. Seu sonho é ser mirim. Aparentava ter mais que 14 anos, e estudava na 7ª série. Não gosta de estudar, nem faculdade quer fazer. "Quero terminar o 3º ano, tá bom já", disse.

Dali, fomos para casa de um menino de 16 anos, meu vizinho, que trabalhava como DJ na campanha política e por isso tinha parado de estudar. Ao chegar lá, a mãe dele abriu o portão e perguntei se ele estava, ela disse que não. Nesse momento, um garoto virava a esquina e vinha em nossa direção com um carrinho de picolé. Quase pulamos de felicidade. Após comprar alguns picolés, colocamos a câmera para carregar na casa de meu vizinho, pois a bateria estava fraca.

Tivemos que filmar a entrevista dentro da casa. O menino de 13 anos vendia picolés aos sábados e domingos para ajudar a mãe. Apesar de ter seis irmãos morava sozinho com ela. Estuda e quer ser advogado. Morador do Los Angeles, pegava o carrinho de picolé em uma sorveteria, alí na Universitária, e os vendia nos bairros Canguru e Centro-Oeste (distante cerca de 3Km dalí). Nesse dia o sol estava muito quente, fazia mais de 40º em Campo Grande. Após a entrevista agradecemos a família que nos emprestou a casa e demos alguns picolés para crianças que brincavam na rua. Ainda o filmamos vendendo picolé para uma menina. Fomos embora chupando picolé, passamos por uma passeata política e nos despedimos às 10h55 em frente à UFMS, onde fiquei para pegar um ônibus.

*Esse é o diário da visita feita para gravarmos as imagens para o trabalho sobre Trabalho Infantil Urbano da disciplina de Técnica de Reportagem (professor Edson). Aprendemos muito com esse trabalho, ao comprar um picolé na rua ou dar dinheiro para um menino guardar nosso carro vamos ter a visão das causas e conseqüências desse trabalho. Vamos olhar não como se fosse normal, mas com indignação e revolta.

**No último sábado, em sua análise econômica, o nosso ex-quase-professor Ido Michaels disse que o salário mínimo do Brasil de R$ 240 facilitava a vinda de indústrias para cá e não para os países vizinhos, onde o salário mínimo é maior. Ele só esqueceu que em maio o salário foi ajustado para R$ 260. Relevem R$20 é uma micharia que não faz diferença para Ido...

*****Greyci Mara para chefe de departamento, Mauro Silveira para coordenador pedagógico...Essa campanha é minha. Mas acho que se isso acontecesse teríamos muito a ganhar...A rádio Corredor está ativa!!! O meu programa é na terça às 17 horas aguardem...
E vai ter outro feriadão aí pela frente: Sexta vai ser feriado, e terça é dia de finados. Ou seja, sábado, domingo, segunda e terça sem aula. E essa vai ser a semana do Fórum de Políticas Públicas que acontesse quarta, quinta e sexta. Uma semana sem aula! Esse Fórum é aquele que agente se empaturra de tanto comer...Quem se empaturra...Eu Não! Acredite quem quiser
Entre Aspas: A melhor notícia não é a que se dá primeiro, mas a que se dá melhor. Gabriel Garcia Márquez.

Entre Aspas II:Quer opinar? Primeiro tenha o que dizer. Segundo: Só diga se fizer diferença a quem ouve, a pessoa precisa enxergar alguma importância...Ricardo Noblat.

guilherme - 17:05:59
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segunda-feira, 18 de outubro de 2004

Aula de Fotojornalismo*

No Fantástico mundo da rodoviária

Terminal rodoviário de CG é um universo paralelo e peculiar

O Terminal Jorge Laburu foi construído em 1976, à época era um dos mais modernos do país. Um centro de lojas, com amplo estacionamento no piso inferior, e um bom lugar para embarcações, além de dois cinemas, um com um restaurante dentro (o Cine Plaza, hoje desativado).

No ano seguinte à sua inauguração, Campo Grande se torna Capital de Estado e tinha um terminal rodoviário à sua altura. O lugar foi ponto de encontro das famílias nos anos 80. Mas, no final daquela década viu a construção do Shopping Campo Grande. Com o shopping, as famílias esqueceram da rodoviária. Os políticos se esqueceram da rodoviária. E foi isso que ela se tornou um lugar esquecido, abandonado, sujo e com leis próprias.

Hoje o lugar é um submundo onde tudo é permitido, e o que há de pior convive harmonicamente com embarque e desembarque de passageiros. Prostituição, venda de drogas, jogatina, agiotagem, alcoolismo e imundice dão o tom ao prédio onde famílias ganham seu dinheiro honesto em suas lanchonetes, farmácias, bancas de revistas, frutarias, relojoarias, lojas de CDs, lojas de produtos importados do Paraguai, salões de beleza e mercearias.

O Cine Center funciona com sessões diárias de filmes pornôs. Prostitutas e gays transintam com shorts mínimos se oferecendo para clientes. Máquinas fotográficas não são bem-vindas ao local. Menos ainda em uma lanchonete, com paisagens pintadas na parede, onde prostitutas se esfregavam nos clientes em plena luz do dia. A polícia? Circulava pacificamente pelo local sem se chocar com as imagens. "É tudo tão comum". Os policiais possivelmente são os melhores clientes dessa Campo Grande às avessas. O Bar do Distinto tem aquele visual velho oeste, cara de local antigo, muito instigante. Tirando fotos encontramos com a voz grossa que dá o som ao ambiente. Dono do sistema de som, o senhor gordinho, conhece muito bem aquele lugar e sabe o que ele representa. "Isso é a história viva da cidade", disse ele.

Os pós-adolescentes de tênis All Star, calça de marca e óculos escuros destoavam do lugar. Eles iriam embora, só estavam ali fotografando, depois sumiriam e viveriam suas vidinhas medíocres alheios ao que acontece ali. "Periferia é periferia", dizia uma camiseta exposta em uma loja. Outra apologizava a banda Racionais. Outras, pretas tinham monstros, caveras e sangue estampados. Em uma lojinha a bandeira do Brasil podia ser comprada a 1,99. No salão de beleza um índio corta o cabelo dos clientes com os quadros de Chaplin, Sandy, Madona, Xuxa e Michael Jackson na parede. Balas são vendidas no corredor. Ao lado, as prostitutas pedem para ouvir músicas e o cliente paga. Lps (discos) e fliperamas ainda existem aqui.

O Guarda-Volumes têm malas dos mais variados tipos, tamanhos e cores. Ainda tinha sacos, sacolas e até uma mobilete velha. Os taxistas conversavam sobre futebol e assistiam à TV, enquanto esperavam a próxima corrida. O pipoqueiro pousava para as fotos com orgulho. Enquanto o vendedor de balão se negava a ser fotografado. Na parte superior a fila para comprar passagens era grande nos guichês. Era sábado véspera de feriado, muita gente embarcando. Sim, as pessoas vêm a esse local para viajar também. Um motorista guardava as malas no bagageiro, enquanto outro que vinha de Alta Floresta (MT) continuava a viagem para Bagé (RS). Abraços apertados e choro ali, criança rindo ao ver o ônibus partir aqui. Outra corre arrastada pela mãe, atrasada para embarcar. Um imponente ônibus com pintura de índio e floresta estaciona. Que enorme contraste com o lugar.

Formas geométricas do telhado, os relógios antigos, os vendedores de chipa, de relógio, a loja de roupas e acessórios para bebê, a rodoviária...A rodoviária é que é o verdadeiro contraste. O prédio antigo da nova Capital abriga o Sindicato dos Cabeleireiros e Empregadas Domésticas, a Agetran, a Assetur, o caixa eletrônico do Banco 24 horas, o posto policial e o guichê de informação para estrangeiros. Além disso, em volta há um mundo também particular que existe, com exceção dos Correios, apenas por sua causa.

O terminal de transbordo de ônibus coletivo, com muita sujeira, precariedade e vendedores ambulantes é sua extensão. Tem a igreja Assembléia de Deus, o Posto Telefônico, o conhecido ponto de drogas (na esquina da Barão do Rio Branco), hotéis, lanchonetes, puteiros, a loja de santos, velas e badulaques espírita, uma outra igreja. Tudo a volta da Rodoviária depende dela e respira o mesmo ar, assim como os que nela trabalham e ganham a vida.

A Rodoviária vai mudar, o dia está cada vez mais próximo. E essas pessoas, e esse submundo, o que vai acontecer com eles? Vão se mudar junto com a rodoviária? Vão permanecer ali? Vai cada um para um canto? Ou simplesmente deixarão de existir? Não sei a resposta, mas tenho curiosidade em saber. Esse lugar me fascina desde criança e vou acompanhar as mudanças. Ver a possível reforma daquele prédio e no que vai se transformar. Vou presenciar tudo e chegar a conclusão que tudo tinha a sua volta acabou, mas ainda vai ter algo que vai resistir. E de um velhinho vou ouvir: "Ví eles construírem esse prédio e o transformarem em rodoviária e também ví ela ir embora". Nada é tão interessante quanto esses velhinhos, as histórias que viveram, as experiências, os medos, os pré-conceitos, a sabedoria e o sopro de vida que ainda têm.

Tudo me chamou atenção na Rodoviária, saí de lá completamente apaixonado. Mas nenhuma imagem foi tão forte quanto a da velhinha que tomava Coca-Cola e comia pipoca. Ela pousava para Maria Elisa que tirava uma foto dela. Rodeada por malas, seu orgulho de ser modelo era tanto que a alegria tomava conta do rosto franzido e cansado de tanta batalha. Com uma saia florida e uma blusa rendada a senhora morena devorava a pipoca como quem tinha fome e vontade de viver. Virava a latinha até ter que inclinar toda a cabeça para trás. Tomou até a última gota do refrigerante que jamais saberá o que representa (será?). Assim como viverá bem a vida até o último segundo (tomara!)

Da onde veio aquela senhora? Para onde ia? O que a vida fez com ela? O que ela fez da vida? E os dias que lhe restam como viverá? Tem filhos, netos, esposo? Quem se importa? Depois da foto tirada o breve agradecimento, vira-se as costas e começa a ser combinado o lugar para onde ia naquela noite e nas próximas do feriado. A senhora continuava ali, com sua fragilidade oponente, com suas malas, com a Coca-Cola e saco de pipocas agora vazios. O rosto ainda tomado de alegria.

Eu tive inveja dela! Quis comprar um saco de pipoca, parecia tão gostosa, mas eu não comeria com tanta vida e apetite. Tive vontade de tirar uma foto. O meu filme havia acabado. Tive vontade de ir falar com ela. Tá louco?! O que os meus colegas iam pensar?

Eu vim embora para casa. Ela ficou lá, com o vento batendo em seu rosto e esperando algo? O que esperava? O ônibus para viajar, ou alguém que buscaria a senhora que chegou de viagem? Porque na cabeça dela aquela moça pediu para tirar uma foto sua? O que a preocupava? O que a afligia? Onde sentia dor? Onde morava? O que a fazia feliz? Deixe disso, você já está atrasado para o trabalho e depois não tem tempo para digitar tudo isso...

Entre Aspas: A maior parte de nossa vida passa enquanto estamos fazendo as coisas erradas, uma parte enquanto estamos fazendo nada, e a vida toda enquanto estamos perdendo tempo. Sêneca

*Isso aconteceu no dia 9 de outubro e a sugestão de ter aula de foto (preto e branco) na rodoviária foi minha. Além do professor, Marco Túlio, foram Manu (minha companheira), Laiana, Thiago, Maureen, Maria Fernanda, Maria Elisa, Kely, Camila Abelha, e Miguel (que chegou no final). Tiramos filme de 36 poses em duplas.

guilherme - 14:15:24
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quarta-feira, 31 de março de 2004

A brisa novamente tocou no rosto
as lembranças voltaram a mente
os pingos quase cairam
O tempo que teima em não parar
esmoece, " e dá um tempo"
Os dias passam e as notícias não vêm
as semanas passam e ficam cada vez mais distantes
os meses passam e as diferenças aumentam...
...E se essa não é a vida sonhada
temos a alegria de sermos jovens
continuarmos almejando sonhos
que brilham como nunca em nossos olhos
O prazer de termos amigos, que mesmo longe
estão muito perto.
Temos sede de viver de fazer novas amizades
viver novas aventuras, aprendendo novas lições
com a certeza que o amanhã será bem melhor!!!
GSD

Até mais!!! E vamos à luta!!!

guilherme - 23:20:26

sexta-feira, 21 de novembro de 2003

Depois de fortes protestos e grandes revoltas resolvi voltar...é isso aí galerinha em breve teremos muitas novidades...