O ano começou nas margens do
Rio Tapajós, em Alter do Chá (PA), numa das festas mais incríveis que já fui
num reveillon. A música da virada foi “Eu vou navegar, nas ondas do mar,
eu vou...Todo mundo nessa cidade é de Oxum...”. Era um anúncio. Além dos
clássicos, saúde, paz e etc, eu desejava para os amigos “ousadia”. Para mim,
queria um ano calmo, de águas serenas, melhorias e aprendizados continuando onde estava. Mas
não foi nada disso que aconteceu.
Por conta de um plantão
jornalístico, passei meu primeiro carnaval em São Paulo. E não morri. Conheci
uma pessoa que marcaria aquele ano. A Semana Santa foi em Campo Grande, ao lado
da minha mãe que tinha feito uma cirurgia. Perdi um voo por conta do trânsito
das marginais paulistanas, dormi no aeroporto - no chão de Cumbica, para ser
mais exato.
Maio foi um mês especial. De
me apaixonar e de me permitir viver esse sentimento, mesmo sabendo da
insanidade que ele anunciava. Fui demitido uma semana antes daquela que seriam
minhas primeiras férias em nove anos de jornalismo. Ia estudar inglês em
Londres.
Em junho parti do mesmo
jeito para a “Gringa”. Nunca mais voltei, não o mesmo. Com o jornalismo
derretendo pelas bandas de cá (além do Valor – onde eu trabalhava – Folha e Estadão
demitiam e Abril fechava revistas), e o mundo se abrindo pelas bandas de lá,
resolvi ficar mais dois meses. A decisão ocorreu no protesto de brasileiros pela diminuição da
passagem em São Paulo, que ocorreu em Londres em 18 de junho. No meio de tantos brasileiros,
com histórias parecidas com a minha, me senti em casa e vontade de continuar estranhando e estrangeiro nas terras da rainha. Navega por águas turbulentas.
Conheci algumas cidades
europeias (destaque para Paris, Amsterdã e Edimburg), mas voltei sabendo mais
sobre mim mesmo. Coisas que eu nem imaginava. Amadureci uns cinco anos em três.
Entendi (ou relembrei com mais força) o que é sentir dor de saudade. A paixão
de maio, a essa altura, esmagava meu peito. Voltei para vivê-la. E foi intenso.
A lua de mel (como todas¿) durou pouco. Logo vieram tantas brigas, discussões e
disputas de espaços que nem tive tempo de me reencontrar comigo mesmo.
Recusei trabalhos fixos que
não tinham a ver comigo, para viver emendando de mês em mês meu contrato de
freela na redação. Trabalhei como gente grande em freelas diversos e me alegrei
por ainda poder ser jornalista. Vi o mar mais uma vez e o ano se aproximava do
fim.
Passei o Natal em Porto Murtinho relembrando quem eu era, de “onde eu
tinha vindo” e preocupado com os meus que envelheciam 'sem medo da morte'. Segui
para Assunção, no Paraguai, da maneira mais rústica, de barco, mini-ônibus e
ônibus. O ano terminou nos braços amados, numa cama de hotel, ouvindo fogos que
anunciavam 2014, numa cidade que parece parada na década de 80. Foi bom, foi
intenso e profundo.