A vida é repleta de perigos.
Numa casa, certamente, mal assombrada como essa, eles vêm de toda parte. Há mais mortos do que vivos por aqui. Os últimos resistentes também se aproximam
do fim da vida.
A casa grande é aterrorizada
silenciosamente pelos perigos. É a árvore que destrói a grossa parede de
concreto. A umidade que corrói a pintura. As rachaduras que consomem o chão. As
teias de aranha que tomam conta do pedaço. As mangas que se estabefam no
telhado de zinco – provocando estrondos – e caem vigorosamente no chão, ameaçando
o teto e a cabeça das pessoas. O gato que passa preguiçoso entre as pernas
perigando derrubar os velhos que se arrastam pelo casarão.
Os azulejos soltam, os fios
despencam, a máquina de lavar foi levada para o conserto e não voltou... Os
besouros monstruosos sobrevoando ameaçadores. Sapos gigantes que coaxam e
tentam devorar os mosquitos proporcionalmente grandes. A modernidade que avança
sem olhar para trás. As perdas subjetivas, materiais e psicológicas que convivem
todas juntas no mesmo espaço.
Mas o maior perigo mesmo é
algo anunciado e, teoricamente, natural: a vida que se encaminha para a morte.
[23-12-2013]
Entre Aspas: A morte estava
no ar e repito: – difusa, volatilizada, atmosférica; todos a respiravam. Nelson
Rodrigues.
Nenhum comentário:
Postar um comentário