quinta-feira, 9 de março de 2006

Entrevista com Marina Martins



Enfim a segunda entrevista do meu fotolog (blog). Essa é com Marina Martins. (A primeira foi com a Laiana há oito meses atrás). A entrevista foi realizada no dia 10 de junho de 2005 no Centro Acadêmico de Jornalismo (Caju) da UFMS. Desta vez quem exigiu a entrevista foi a entrevistada. Marina me intimou a fazer a entrevista.


A Personagem Marina:

Ela tenta nos remeter para a menina simples, de monocelha, com cabelo à la Chitãozinho e Xororó, de joelhos grandes, com pés descalços e sujos. Mas, o que vemos é uma mulher linda com rosto de menina que para alguns é inimaginável lavando roupas. Apaixonada, responsável, frágil, perfeccionista e inteligente, ela logo nos conquista e faz com que a admiremos.

Porém, a imagem da mulher forte e determinada é apenas uma maneira de proteger a menina carente e completamente dependente da família, dos amigos e do namorado. Dependência afetiva que fique bem claro. Por que é ela que faz a todos ficar dependentes de sua eficiência e companhia.


Confira a entrevista:

Guilherme - Eu quero que você se apresente, fale seu nome, sua idade, aonde você nasceu.
Marina
- Peraí, vamos por partes. Meu nome é Marina Martins eu tenho 20 anos. [agora 21 completos no último dia 13 de novembro]


Gui - Marina Martins?!
Ma
- Marina Martins da Silva. Da Silva do meu pai e Martins da minha mãe. Tenho 20 anos e eu nasci em Iguatemi, uma cidade pacata e bucólica que fica no sul de Mato Grosso do Sul.

Gui - E o que você faz da vida?
Ma
- Eu... Faço faculdade de jornalismo, 3º ano [4º ano agora], eu faço estágio em telejornalismo numa emissora de TV. Faço cursos...


G - De?
M
- Eu faço curso de inglês, no momento é o que eu estou fazendo agora, porque o resto eu tive que parar tudo por caso do trabalho, né? Eu... Que mais que eu faço? Eu faço, eu gosto de fazer artesanato, então eu faço com a minha mãe nos finais de semana. Eu uso esse meu tempo livre pra fazer artesanato e pra mexer com essas coisas que eu gosto.

G - Aonde você faz estágio? É uma emissora de TV, que emissora é essa?
M
- Na TV Guanandi, a TV Guanandi é filial da TV Bandeirantes (Canal 13).

G - Que programa que você faz lá?
M
- Eu faço o "Shopping da Cidade" que é programa de compras, aliás um programa de vendas, que passa às 18h05, todos os dias, de segunda a sábado, vou fazer um merchan e é um programa da TV Guanandi, não é terceirizado, não é enlatado. E eu sou contratada da TV pra fazer esse programa. [Agora Marina trabalha pela manhã no Zoom Rural, no canal 2 da net, e no jornalismo da TV Guanandi]


G - Eu queria você contasse como foi a sua infância. Como você era quando criança? Do que você brincava?
M
- Ai meu Deus, minha infância foi muito feliz passei em toda em cidades do interior, bem pequenas... minha família é muito grande, então vivia rodeada de tios, primos, amigos. Recebi sempre muito carinho, amor, atenção. Minhas brincadeiras eram saudáveis, minhas casas sempre tiveram um grande quintal, com terra, árvores, frutas, lugar pra correr, se sujar também sempre me dei muito bem com meus irmãos, e brincávamos juntos... foi uma infância deliciosa.

G - como você era quando criança?
M
- Bom, fisicamente, parecia mais um menino.,tinha cabelos curtos, sombracelhas grossas, pernas finas, sempre machucadas, magrela. Minha personalidade não era muito diferente do que é hoje, tinha sempre opinião sobre as coisas, era comunicativa, falante mesmo. gostava de liderar as brincadeiras, inventar era comigo mesmo...

G - Do que você brincava?
M
- Brincava na rua, de correr, de pipa, bicicleta, bola, queimada, bandeirinha, carrinho, boneca, de tudo, gostava de ir até as fazendas vizinhas, pra mexer com os bois, sempre gostei de boi, vaca, outra brincadeira, quando fiquei mais velha, era inventar com meus irmãos, programas de rádio, ganhei um gravador,, de tv... fazíamos um jornalzinho...etc

G - Como foi sua adolescência? o primeiro namoro...
M
- como todo adolescente, devo ter sido meio boba, às vezes me lembro de algumas coisas e dou risada. Mas, desde cedo fui muito responsável, fiz cursos e comecei a trabalhar pra ganhar meu dinheiro. mas sem deixar de aproveitar minha adolescência, nessa época, fiz amigos verdadeiros, que estão comigo até hoje, me apaixonei por meu primeiro namorado, e pelo segundo, e pelo terceiro...(risos). Festei muito, aproveitei as novidades, mas sempre com responsabilidade. Nunca fumei, nem usei drogas, nem mesmo maconha. Mas tudo foi válido, fui amadurecendo com cada experiência e escolhendo como eu queria agir pra ser uma pessoa melhor.

G - Porque você escolheu fazer faculdade de jornalismo?
M
- Bom, eu nem sabia o que era um vestibular, mas quando descobri, decidi que ia fazer jornalismo. Eu nem sabia o que queria dizer, isso com uns 12 anos, fui crescendo, gostando de telejornais, de ler, de rádio e descobri que era isso mesmo que eu queria ser, aliás, tudo isso, meu pai me deu o maior apoio e até hoje espera me ver um dia na Globo (risos) me descobri no meu curso e na minha profissão, sou apaixonada pelo jornalismo e pela rotina, nada monótona, da redação, acho que foi isso.

G - Marina por Marina, se defina. Como você é, do que você gosta.
M
- isso é difícil, mas acredito ser uma pessoa responsável, ansiosa, determinada, às vezes aflita demais. Afoita demais, meus defeitos são visíveis: sou estressada, a paciência não é meu forte; muito exigente, perfeccionista e chata. Mas tenho qualidades também: sou carinhosa, amorosa, gosto de dar e receber atenção e sou competente.


G - Como que é sua relação comigo? Como que eu sou? Críticas e elogios.
M
- É uma relação de amor e de ciúmes, eu tenho ciúmes de todos os meus amigos. Ontem eu tive uma crise de ciúmes por causa da Maureen, antes de ontem eu tive uma crise ciúmes por causa da Maria Fernanda. Só que ao mesmo tempo em que eu sou muito espontânea quanto aos meus sentimentos, eu também sou muito fechada. A Maria Fernanda sempre me fala isso, ela sabe o que eu estou sentindo por que ela me conhece, mas eu não deixo transparecer o porquê que eu estou chateada ou o porquê que eu não estou bem. Ontem eu tive uma crise de choro porque a Maureen passou por mim e não me cumprimentou. E às vezes é uma coisa que você se vê tanto que pra você um cumprimento não é importante, mas pra mim é. E a minha relação com você é assim: eu tenho paixão por você, eu adoro ler as coisas que você escreve por que acho que você é muito inteligente. Eu falo para o Luís que às vezes eu tenho uma invejinha, eu já escrevi isso no seu blog, do que você consegue passar pra gente com o que você escreve, às vezes eu estou triste e eu leio um negócio e fico alegre, ou ao contrário. Eu fico pensando, eu começo a pensar nas coisas, eu adoro isso. Adoro seu jeito cativante, seu jeito alegre e o seu jeito de sempre ver uma qualidade nas pessoas, acho que isso é sua maior qualidade. Você consegue ver uma qualidade em todas as pessoas, em todos os seus amigos, talvez eu não consiga isso.

G - E qual é o meu defeito?
M
- Seu defeito? O seu defeito...Cara, qual é o seu defeito? Talvez o seu defeito seja você ser meio arrogante, às vezes você não aceita muita sugestão, e você acha que a pessoa nem devia estar falando com você e a pessoa está te dando uma sugestão e talvez isso seja importante para nossa vida, a gente tentar ouvir as pessoas que estão de fora. E às vezes a gente não ouve. Não que seja um defeito, mas é o que eu me lembro agora.

G - Você é amiga de todo mundo aqui na faculdade, se relaciona bem com todos. Mas, com quem você tem mais afinidade? E Por quê?
M
- Hum, olha, são algumas pessoas, não é uma pessoa. Uma pessoa que, tirando o Luís, o Luís não conta, amigo. Cara, são muitas pessoas, se eu for falar eu vou falar uma por uma porque eu tenho mais afinidade. Mas, as pessoas que eu tenho mais afinidade são: a Laiana. Porque a Laiana é um caso de amor e ódio, sabe? A gente morou junto, então a gente passou por muita coisa junto, eu passei muita raiva com ela, ela passou muita raiva comigo, a gente brigou muito. Mas, eu amo a Laiana de um jeito, cara, tudo que ela faz eu acho engraçado, eu acho o jeito Laiana de ser, eu adoro ela. Eu tenho afinidade com ela por ela ter morado comigo e por a gente ter divido muitas coisas, muitos problemas, muitas alegrias. Ela me salvou duas vezes (risos). Eu não sei se ela falou isso para você.


G - Não, como ela te salvou?
M
- Ela e o Luís. Eu estava morrendo do coração sufocada, eu tenho arritmia, eu comecei a chorar muito, estava chorando, eu não lembro por que. Estávamos nós três, estávamos falando de algum amigo, sei lá, e eu comecei a chorar muito e começou a faltar ar, faltar ar e simplesmente acabou o ar. E eles jogaram água na minha cara, me chacoalharam na janela. Aí eu falo que ela salvou a minha vida. Outra pessoa que eu tenho muita afinidade é a Maureen. A Maureen é a minha irmãzinha, ela foi uma das primeiras pessoas que eu conheci, foi a pessoa que falou assim, ela sempre fala isso, ela se acha (imitando a voz da Maureen): "Ai, você tem jeito pra Televisão, você não quer fazer televisão?". Ela me levou para produtora, ela estava fazendo estágio e eu fui ser assistente da estagiária (risos). A gente ficou muito amiga, esse jeito da Maureen de paty, isso é tudo fachada, a Maureen é uma pessoa maravilhosa, a gente briga demais, porque a gente tem opiniões muito diferentes e a gente disputa. É uma coisa de disputa que eu não tenho com as outras meninas e que ela não tem com as outras meninas, a gente disputa o tempo todo. Talvez quando a gente for profissional a gente vá disputar, ou vá trabalhar juntas. Eu adoro trabalhar com a Maureen, adoro estudar com a Maureen, adoro ser amiga dela. Amo a Maureen porque ela me alegra. Ela que vai atrás de mim. Outra pessoa, eu não posso falar de todos, a Marê, a Maria Fernanda,a Priscilla, a Vivi, a Abelha, a Manuela, a Isabel, com todas elas eu tenho uma certa afinidade, com as meninas é mais a Maureen e a Laiana, por essas questões, e com os meninos é o Gui, você, que eu acho que tenho mais afinidade, por que você tem sempre uma palavra pra animar a gente, toda vez que eu precisei você estava junto comigo, você dividiu as coisas comigo. Eu conto as coisas pra você. As primeiras coisas que acontecem na minha vida eu conto pra Maureen, pra Laiana e pra você. São sempre as primeiras pessoas a saber, quando eu estou desanimada eu conto, quando eu tenho dúvidas, dificuldades. E você sempre me ajudou, foi muito alegre e completa essas horas que não está muito bem, acho que é isso que é ser um amigo mesmo. Acho que são essas três pessoas.


G - É... quase chorei mas tudo bem, rs. Você quer trabalhar com o quê?
M
- Trabalhar?


G - TV, impresso...
M
- Eu quero continuar fazendo jornalismo, que fique bem claro, eu não quero mudar de profissão. Mas, talvez, eu não tenho vontade de trabalhar em impresso, aliás, eu tenho vontade de passar, mas a minha grande vontade, a minha grande paixão, é o telejornalismo. Talvez não apresentando, sendo repórter, nada disso, mas na produção, me identifico muito com a produção de telejornalismo, adoro fazer produção e adoro editar também. Adoro edição, essa parte de produção e edição, acho que vou acabar indo para esse lado. Eu acho que vou largar um pouco, não sei se meu pai vai gostar muito disso, mas acho que vou acabar fazendo isso que é o que eu mais gosto.


G - Como você se vê daqui dez anos? Você vai ter 30 anos, eu quero você fale como você se vê, sonho mesmo, você vai estar casada? Vai ter filhos? O que você vai ter feito?
M
- Cara, eu sempre penso isso de dez anos, dez anos é rapidinho. Daqui 20 anos é mais longe. Eu acho que com 30 anos eu vou estar casada, vou estar casando, porque eu acho que encontrei a pessoa com quem eu quero me casar, e com quem vou ser feliz. Mas, filhos não vou ter, mas também não vou demorar muito para ter filho não, no máximo com 32. Deixa eu te contar uma estatística, não sei se está muito certa, mas, já ouvi.


G - Você assiste Sob Nova Direção (risos)?
M
- Não, mas não é essa da Pitty. Quando a mulher tem 20 anos ela tem 90% de chance de engravidar, quando ela tem 30 anos essa chance cai para 70%, quando ela tem 40 anos essa chance cai para 40%. Então é uma queda muito radical. Esses dias eu estava lendo e não acreditei, mas é verdade, e é muito grande, então se eu deixar pra ficar grávida muito tarde eu posso ter complicações e não ter mais filhos. E eu quero ter muitos filhos, muitos assim, uns três ou quatro, acho que quatro. Depende da minha situação financeira, que eu não quero por filho no mundo sem ter como criar. Mas, acho que quero ter uns quatro e um temporão, porque quando os outros estiverem na faculdade eu quero ter um pequeno perto de mim. Ou pelo menos vou adotar, eu tenho essa vontade adotar e tenho vontade de ter um filho negro, eu sempre quis isso. Minha mãe falava que ia casar com um negão. Então, eu acho que vou acabar tendo três filhos e adotando uma criança.


G - O que você já vai ter feito? Você vai estar em Campo Grande?
M
- Difícil isso. Eu comprei um apartamento e eu tenho que ficar muito tempo em Campo Grande, só que eu não me vejo aqui eu me vejo em outra cidade, casada com filhos, mas em outra cidade. Trabalhando, meu marido também trabalhando. Mas, não aqui em Campo Grande. Vindo em Campo Grande nas férias, talvez Brasília, ou alguma coisa assim. É um sonho, não tenho nada de perspectiva, nada em vista. Eu vejo Brasília, Goiânia, Aqui no Centro-Oeste mesmo, eu vejo isso.


G - Como você vê o jornalismo de uma maneira geral?
M
- Hoje? Ai, Gui pergunta difícil. O jornalismo de maneira geral: melhorou muito tecnicamente, melhorou muito em produção. O jornalismo regional está muito legal, só que quando você começa a estudar você começa a ser mais crítico. Eu assisto hoje ao MSTV, eu não agüento mais assistir, tem horas que eu falo meu Deus o que a gente está fazendo? Porque a gente está fazendo isso. Tanto que esses dias passou um negócio assim: Trabalho infantil lá,lálá,. Eu falei aconteceu alguma coisa, o que aconteceu que eles estão querendo mostrar? Aí que eu fui ver que a Regina Rupe tinha feito não sei o que lá, estavam assinando um documento, aí eles tocam no assunto. Eu acho que jornalismo poderia ser um instrumento social, só que acho que não é, se desvirtuou.

G - Você acha que está muito preso ao factual?
M
- É. Esses dias a gente recebeu uma pauta assim: Estão assaltando muitas lojas, porque vocês não fazem uma matéria sobre a segurança da Capital, diz que a polícia estava envolvida no meio. E o que a gente respondeu? Que não daria para fazer, que era muito rápido o negócio e a gente tinha que fazer a notícia do dia, nem quem a notícia do dia fosse: Morreram tantas pessoas. Porque para o jornalismo hoje você pode ver todos os sites, todos os telejornais, vão dar o mesmo acidente que morreu tantas pessoas. Todos. Ontem, morreram três mulheres na saída para Três Lagoas, tinha várias notícias importantes, várias notícias que poderiam ser mais exploradas, em Iguatemi mesmo apreenderam duas toneladas de maconha, tinha aquela notícia de empresas de captação que foram fechadas, aquilo é muito importante, aquele negócio de compra programada é ilusão, já enrolaram um monte de consumidores, para ele pagar a vista. "Ah, eu estou precisando de empréstimo de R$ 100 mil, tudo bem, mas você vai ter que pagar as taxas administrativas de R$ 7mil, você deposita na minha conta e amanhã R$ 100 mil está na sua conta", então o babacão vai lá e deposita e a empresa some com os documentos, tudo falso, tudo estelionatário. Isso aconteceu ontem, e todo mundo falou que foi preso, ninguém foi a fundo. Era um negócio importante de ser divulgado, mas o acidente teve muito mais repercussão do que isso. Então isso às vezes desanima, mas você sabe que é assim que você vai ter que conviver com isso. É o comércio e o sensacionalismo na TV, o tempo todo.


G - Como você avalia o governo Lula?
M
- Gente que forte! (risos) Governo Lula? Cara, olha vou falar bem a verdade, eu não sou de nenhum partido, mas eu odeio o PT. Eu odeio o PT, não por experiências minhas, mas por experiências da minha mãe. Eu acredito muito na minha mãe, e ela disse que acreditava no Lula, votou no Lula antes, quando eu era criança, e que nada deu certo e que se desvirtuou. E agora o que a gente está vivendo agora, é um partido que é dominante, que está governando o Brasil, que é uma coisa muito importante, um partido que se dizia arrojado, que ai mudanças, nós temos muitas mudanças, vamos ser ousados e lá, lá, lá, e está com a mesma ladainha do governo anterior, dos governos anteriores, está com as mesmas palhaçadas, política não tem jeito. Questão de mensalão, isso sempre existiu, não é só nesse partido é em todos os partidos. Uma vergonha, esses dias a gente estava vendo que deputado vai ter um recesso agora no meio do ano, pra quê que deputado tem recesso no meio do ano? Às vezes eu tenho uma postura até meio radical, eu queria que político não ganhasse nada. Recebesse só lá seu auxílio, um salário normal como de qualquer cidadão, R$ 1000. Por que se a intenção que não foi deturpada, a intenção verdadeira de um político, eu quero ajudar o povo, eu quero fazer pelo povo, então isso aí vem dele, ele não tem que receber por isso. Não tem que receber por isso, não tem que receber auxílio paletó, não tem que receber porra nenhuma. Eles só roubam dinheiro. Eu tenho um negócio com político que assim ,eu não conheço nenhum partido, não vou muito afundo nessas questões, mas eu acho que eu procuro sempre levar é: o social está bem? Não, não está bem. É só com os políticos, talvez não. Eles fazem discurso de paletó, enquanto as pessoas estão passando fome, eles têm auxílio paletó enquanto as pessoas passam fome e não têm onde morar, nem o que se vestir. E ficam fazendo discurso, eu odeio demagogia e odeio hipocrisia. E político pra mim é hipócrita no Brasil hoje.


G - Iguatemi. Você falou que seus pais voltaram a morar em Campo Grande, você acha que Iguatemi nunca mais ou você volta a morar lá um dia?
M
- Não. Eu acho que não volto a morar em Iguatemi, talvez eu possa voltar pra Iguatemi, numa questão assim, eu sempre tive vontade de ajudar Iguatemi a crescer, alguma coisa nesse sentido. Mas, como eu não sou empresária, nem pretendo ser. Talvez eu seja uma empresária, talvez eu instale uma indústria em Iguatemi que ajude a crescer, por que eu tenho um carinho especial por Iguatemi, por que lá é a cidade que nasci, onde meus irmãos nasceram, onde eu tive a minha infância, onde eu passei a maior parte do tempo com meus avós, que a minha avó já faleceu, então assim eu tenho esse carinho por Iguatemi. Mas voltar a morar lá eu acho que eu não volto. Não é que Iguatemi nunca mais, agora com meus pais aqui fica muito mais difícil eu ir pra lá. Eu tenho alguns tios e primos lá, mas é muito mais difícil agora eu ir pra lá. Quando meus pais estavam lá já era difícil. Mesmo assim meus amigos me cobram, a gente vive falando, eles vivem me cobrando, mas tenho vontade sim de ir lá passear, encontrar meus amigos, quando eu tiver um tempo, eu vou com certeza, não vou dizer nunca mais. Mas, com relação a morar e trabalhar não. Agora eu não sei, o futuro, vamos dizer que eu consiga me fazer profissionalmente e tenha condições de dar melhoria para o povo eu vou dar porque Iguatemi é muito carente. É uma roubalheira, a prefeitura é roubalheira, o povo sofre, e o povo é burro, passa fome, mas vai atrás de pessoas que prometem. O povo é ignorante porque não têm professores descentes, essa questão de fazer capacitação de professores. O que precisa em Iguatemi, eu acho que no Brasil todo, é de educação. Nesse sentido, eu ajudaria se eu tivesse condições, tenho vontade.


G - Como é Iguatemi, o que tem lá de bom? A praça, a igreja...
M
- Tudo é bom em Iguatemi. Iguatemi, a praça, na verdade, têm duas praças. Uma praça tem a quadra de futebol, o futebol de areia lá, que é em frente da casa de uma amiga minha, que todos os eventos, carnaval de rua a gente ficava lá na frente da casa da minha amiga, e tem o parquinho, tem a biblioteca da cidade, que é bem pequenininha, mas é lá que fica. E a outra praça é a praça da igreja, que eu passei muito tempo também, que daí tem o salão paroquial. O pessoal não se encontra mais em praça, tem um lugar em Iguatemi onde todo mundo se encontra que chama New Point, que é uma lanchonete, começou com um trailer e todo mundo começou a se encontrar lá, então começou a crescer e virou uma lanchonete grande, e todo mundo que vai pra Iguatemi vai pra New Point, até o Luís já foi pra New Point jogar sinuca quando ele foi lá (risos).


M - Na entrevista com a Laiana ela disse que não conhece ninguém da nossa idade que seja tão responsável quanto você. Da onde vem essa responsabilidade toda?
G
- Ai meu Deus. Eu não sei, foi o que eu te falei aquela hora o que eu achava sobre mim, eu me cobro muito das coisas, sofro antecipadamente, e eu tenho mania achar que eu tenho que carregar tudo que está em volta de mim nas costas. Eu tenho que dar um jeito. Se meu irmão não está bem eu tenho que ajudar, se meu namorado não está bem eu quero ajudar, se a minha mãe está precisando de alguma coisa, eu quero ir lá na casa dela fazer, e ao mesmo tempo eu quero estar trabalhando, quero estar aqui na universidade, sair com quem tiver saindo. E ao mesmo tempo eu quero pagar todas as minhas contas, se eu fico devendo uma conta eu fico enlouquecida, pode ser uma conta de R$ 10. Acho que essa responsabilidade minha mãe me passou, o meu pai me passou, os meu avós, só que eles nunca me cobraram tanto para que eu fosse tão responsável. Eu sinceramente não sei da onde vem essa minha mania e é chato isso. Eu incomodo as pessoas, eu irrito, eu sou perfeccionista e eu sou adulta, eu fui adulta muito precoce, fui morar sozinha, aprender a pagar as contas, trabalhar, fazer compra, lavar roupa, limpar casa, a cuidar do meu irmão que estava doente, tudo isso, sabe? Eu não sei, sinceramente, os meus pais me passaram isso, mas nunca me cobraram tanto. Eu não sei da onde que vem é uma coisa minha mesmo, é pessoal, não sei se meu filho vai ser assim, vou passar os valores para ele. Mas, também não quero que... Isso faz a gente sofrer também, sofre porque a gente cobra das pessoas o que elas não podem dar. Daí você chega em casa e põe a cabeça no travesseiro e pensa que não deveria ter feito aquilo, então se cobra por ter cobrado outra pessoa. Isso é muito ruim, é muito complicado.


G - Você tocou no ponto de morar sozinha, hoje, por exemplo, você mora sozinha por opção, por que seus pais moram em Campo Grande. Fale dos pontos negativos e positivos de morar sozinha.
M
- Os pontos negativos, primeiro, de se morar sozinha: eu odeio solidão, odeio ficar sozinha, então eu não posso ficar sozinha, quando eu estou sozinha eu vou atrás do meu namorado, ou eu vou atrás da minha mãe, ou eu vou pra casa da minha tia, que é super perto, vou ver o Diego, ou eu ligo para minha prima, que é perto também e vou pra casa dela, então eu não gosto de ficar sozinha. Tinha medo de dormir sozinha logo que a Laiana foi embora, eu chorava a noite, sentindo a falta dela. Tem pontos negativos nesse sentido, de você não poder contar com a pessoa o tempo todo. Eu já sentia a presença dela ali o tempo todo, isso é ruim. Agora os pontos positivos. Eu moro sozinha desde que eu sai de casa, eu tinha 17 anos e você adquire uma responsabilidade e você, é engraçado, eu sempre uso esse exemplo, você vai à banheiro, você faz suas necessidades e não tem papel higiênico, você não vai poder gritar para sua mãe, você vai ter que descer e comprar o papel higiênico. É tudo mais complicado, mas ao mesmo tempo é muito engrandecedor, faz você crescer, faz você aprender as coisas, é bom porque você vai arrumando o seu cantinho. Eu como estou comprando o meu apartamento, eu quero comprar as minhas coisas eu fiz a minha cozinha, eu quero fazer o meu banheiro, e isso é muito bom quando você vê que você fez aquilo com o seu dinheiro e que o canto é seu. Isso é muito bom, as pessoas respeitam, meus pais confiam plenamente em mim, plenamente, por eu já morar sozinha, tanto que agora eles mandaram meu irmão para eu cuidar né? Para morar comigo, e eu sou super, coitado do meu irmão saiu uma mãe chata para ficar com uma irmã pior.


G - Quando você começou a gostar do Luís? Qual foi o primeiro dia que vocês ficaram?
M
- O primeiro dia, ai que vergonha, na segunda-feira começaram as aulas, na quinta-feira a gente ficou (risos). Eu o conheci na segunda-feira, aí ele ficou me cantando a semana inteira e eu bobona não estava percebendo, só que eu também o achei bonitinho, daí ele me chamou para ir na festa de um veterano dele, daí eu chamei a Laiana, foi a única que aceitou ir na festa com a gente, daí a gente foi. Eu fiquei muito bêbada, eu tinha mania de ficar bêbada, agora não, e aí eu fiquei com ele. Ele roubou um beijo, eu fiquei brava no começo, mas depois... E no começo eu não queria muito ficar com ele por que eu tinha acabado de terminar um namoro e vim pra Campo Grande pensando vou entrar pra faculdade, não vou namorar ninguém, vou festar muito. E não foi isso que aconteceu, eu festei muito, conheci muitas pessoas, lógico, mas conheci uma pessoa muito importante também, que eu agradeço até hoje. Só que eu só fui perceber isso uns três meses depois quando eu chorei. Foi no dia 1º de junho em um churrasco na casa do Hélio, que daí a gente começou mesmo, a gente já estava namorando, mas foi nesse dia que eu me toquei que eu gostava dele mesmo, que eu queria ficar com ele.


G - Vocês vão se casar, ter filhos?
M
- Vamos. A gente vai casar. A gente faz planos para casar, não agora, a gente está estudando, a gente não tem nada. Mas, a gente fala: eu tenho o apartamento, ele tem o carro. A gente vai casar, a gente tem muita vontade, eu tenho sonho de casar, de ser um casamento diferente, dos meus amigos todos serem meus padrinhos, e a gente vai ter filho, ele vai cuidar dos nossos filhos todos muito bem, ele vai ser um pai maravilhoso, um marido maravilhoso, ele é maravilhoso.


G - O que você sente por ele? O que faz ele ser especial pra você?
M
- Ai, eu vou chorar. Ele é uma pessoa responsável, como eu. Ele é responsável, ele é batalhador, ele é carinhoso, ele me aconselha, me ajuda, sei lá, ele é muito respeitado pelas outras pessoas. Ele se faz respeitar, gosto muito disso nele, ele preza muito o respeito, por mim também, a gente se respeita muito e se ama muito, sei lá, ele é tudo isso e mais um pouco. Ele é um monte de coisa.


G - Você é uma pessoa forte e decidida, mas ao mesmo tempo é frágil e desprotegida, como é isso?
M
- Pior que é, né? É verdade, principalmente quando é pra lutar pelas pessoas eu sou mais forte, eu sou decidida pra ir atrás das coisas que eu quero profissionalmente, mas eu sou muito carente, muito frágil, muito insegura. Muitas vezes tenho insegurança, fico às vezes em dúvida, às vezes eu preciso ligar pra casa da minha mãe pra ouvir a voz dela, pra ela me dar um pouco de força, por que as vezes eu estou lá fazendo tudo dia-a-dia, pagando conta, limpando casa, indo trabalhar, fazendo almoço, levando meu irmão pra faculdade e aí chega no final da noite que eu estou tão cansada que eu começo a chorar, eu quero colo, que eu quero dormir. Tenho vontade de voltar a morar com a minha mãe para não ter mais essas responsabilidades. Que na verdade eu gosto disso, por isso, que eu preciso dos meus amigos, preciso de atenção, sou ciumenta e preciso do Luís né? Ele que me ajuda.


G - Agora é o bate-bola
M
- Eu não vou saber falar, me ajuda...


G - Família
M
- Tudo



G - Um lugar
M
- A minha casa


G - Um exemplo
M
- O meu pai

G - Amor
M
- (imitando voz de criança) o Luís


G - Amizade
M
- Amizade? Eu preciso de amizade, eu preciso dos meus amigos, eu preciso de todos vocês o tempo todo.

G - O Brasil
M
- É lindo


G - Jornalismo
M
- Jornalismo, que difícil. Jornalismo é o que eu quero.


G - Uma qualidade
M
- Sinceridade


G - Um defeito
M
- Mentira


G - Sonho
M
- Me realizar profissionalmente e ser feliz


G - Escrever
M
- Ah! É bom para extravasar, mas eu não sou muito boa nisso (risos)


G - Um momento de alegria, da sua vida
M
- Foi quando eu fiz dez anos, eu vou chorar, que estava todo mundo na minha casa. (chorando). A minha avó, a minha tia, todo mundo que já morreu e não está mais aqui, todo mundo que é importante para mim, meu avô. Foi uma festa linda que era do Bozo e tinha balões, que minha mãe fez no papel vegetal, que eram uns girassóis.


G - Um momento de tristeza
M
- Tiveram muitos, mas eu acho que todos se resumem na morte da minha avó, do meu avô, da minha madrinha, de todo mundo, mas a morte da minha avó que começou.


G - Paterna?
M
- Paterna, foi com ela que começou, foram perdas significativas pra mim.

G - Uma frase
M
- Ah, tem várias, cada uma fala de uma circunstância, depende, mas eu acho que no momento é: "não importa sua idade, nem o tamanho do seu sonho, você pode mais do que imagina..."


G - Um recado final.
M
- Ai, meu Deus, agora Guilherme? Cara, um recado final? Eu quero dizer que eu amo todos os meus amigos e que mesmo com a distância, não daqui de Campo Grande, (chorando) eu continuo preservando todos eles, zelando por todos eles por nossa amizade, e pela confiança que eu tenho nas pessoas, pelo amor, porque eu acho que é o essencial. Eu amo muito minha família, mas eu amo demais os meus amigos, eu preciso deles o tempo todo. Não é só por que eu estou distante, que eu não preciso, eu preciso o tempo todo de atenção, então eu quero deixar esse recado eu amo todos os meus amigos, que sejam todos felizes, perto de mim.


G - É isso, obrigado.

Marina é a filha mais velha de Marcos João da Silva e Celina Maria Martins da Silva. Têm dois irmãos: Marcus Vinicius (Vini) e Marcelo Henrique (Téio).


guilherme - 11:59:51
envie este texto para um amigo - 4

Nenhum comentário: