sábado, 10 de junho de 2006

A batalha final: Os últimos dias do resto de nossas vidas

Ando cansado, minha cabeça não consegue processar um milésimo do trilhão de informações que recebo. São 18 horas e depois de um longo e tortuoso dia de trabalho ainda tenho que ir pra faculdade. Não agüento mais aula. Mas, quero continuar vendo os amigos. Está certo que estamos cada vez menos nos encontrando, cada vez mais cansados e estressados, mas somos amigos, nos divertimos juntos.

Estamos nos preparando para a reta final de nossa vida acadêmica, os últimos dias de aula do curso de jornalismo, do resto de nossas vidas. As últimas horas juntos rindo na cantina do Moita ou na escada. Depois, nunca mais todos juntos. Todos não vão morrer, mas cada um irá viver sua vida, encontrar seu caminho. O tempo e a distância vão chegar. E será que vamos conseguir fazer aqueles churrascos de encontro de turma? Será que temos de fazer isso? Será que queremos?

Vem aí a rotina profissional, o dia-a-dia, o fechamento, o dead line que já está aí. Não teremos mais a obrigação de ir pra faculdade, mas onde vou relaxar e dar boas risadas? Vou ter de encontrar novos amigos... Não será o mesmo. Dos professores ficarão saudades e causos engraçados. Nos corredores da federal ainda ecoarão nossos gritos. A gente não vai se esquecer, mas vai se perder. Vamos nos dispersar. Usando um clichê: somos lagartos que vamos ganhar asas, virar borboletas e voar. Vôo mais solitário, competitivo, sem muita proteção. Torço por todos. O que gostaria mesmo é que fôssemos um bando de pássaros daqueles que sempre voam juntos.

Como sonhei entrar na faculdade. Vivi intensamente, mas como diz a música queria ter aproveitado mais... Fui feliz, cresci, amadureci, ri, chorei. Errei, fui elogiado, vendi bombons, ri e conversei de novo. Aprendi, desaprendi, apreendi, boiei, compreendi. Saio outro, com outros sonhos, mais maduros agora, sem aquela revolução e frescor da adolescência (pena?). Saio para o jornalismo, que não é aquele que vim procurar. Saio para vida e quero todos vocês por perto. Mesmo sabendo que isso é uma utopia.

Eu disse...

No final de 2004, quando estávamos no 2º ano eu já previa: "No 4º ano a turma separada em dois no terceiro é uma de novo. Não adianta. A divisão física e mental já terá nos atingido de um tanto que nada nos unirá novamente. Além disso, 4º ano tem três meses de aula. E mesmo assim, cada qual fica com seu grupo. Vai ser sempre assim daqui para frente. Já é sempre assim. Mas, todos carregam sentimentos, são pessoas com vasto universo dentro de si, com milhões de coisas a serem descobertas e uma infinidade de outras para serem desvendadas juntas. Eu gosto de todos e quero compartilhar um pouco do mundo de cada um". É o que eu dizia na época, é o que eu sempre busquei na faculdade: conhecer diferentes realidades, me relacionar com outros seres humanos, mesmo os divergentes, os iguais, alguns que foram se tornando iguais e outros que se tornaram distantes.

Nesse tempo, o tempo não parou. O cabelo cresceu, encurtou, as espinhas se foram. Veio o aparelho, que também se foi, os empregos. Os namorados (as), acidentes, alegrias, tristezas, mudanças de casa, viagens. Mudamos. Reciclamos, amamos, corremos, brincamos, brigamos, tiramos fotos, escrevemos, falamos, ouvimos, trabalhamos, fomos nós mesmos e aproveitamos, cada um a sua maneira, cada momento.

O tempo não pára:

A mensagem foi dada aqui em junho de 2004, mas vale a pena repetir: "Uma luta, um jogo, uma algema constante com o tempo que não pára e que nos vence incessantemente e não nos 'dá um tempo' nem de respirar".

Tempo vago... uma confusão de pensamentos, idéias, ideais, coisas a se fazer, compromissos... Depois da crise e da ajuda dele (O Tempo) vem o amadurecimento, o crescimento. O tempo não pára... Então vamos correr atrás dele... Vamos à luta!"

Ente Aspas: Ando em crise, numa boa, nada de grave. Mas, ando em crise com o tempo. Que estranho 'presente' é este que vivemos hoje correndo sempre por nada, como se o tempo tivesse ficado mais rápido do que a vida, como se nossos músculos, ossos e sangue estivessem correndo atrás de um tempo mais rápido. Arnaldo Jabor.

Entre Aspas 2: Escrever é a minha única salvação, quando arranjo tempo para escrever é por que estou bem comigo mesmo. Bruno Moser/GSD.

PS: As crianças me chamam de tio. Os adolescentes se referem a mim como "o homem". Os adultos me tratam como o rapaz. E os velhos como o "menino". Quem sou eu?

Até mais, se o tempo, senhor da sabedoria, deixar.


guilherme - 00:52:23
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terça-feira, 9 de maio de 2006
Vão livre

Universidade Federal de Mato Grosso do Sul, 1h30 de sábado. Faz frio. O atraso do ônibus é o assunto da conversa dos estudantes que se preparam para ir ao Pantanal. A espera acaba com uma dúvida: "É nisso que vamos viajar?" O velho microônibus não contém nenhum equipamento de segurança. Porta-malas e bancos confortáveis também não estão entre suas características. Se suas pernas têm mais de 50 cm prepare-se para espremê-las durante 6 horas.

Mas, quando a viagem inclui a animada turma de jornalismo 2006, nada é empecilho para diversão: "Toda vez que eu chego em casa a barata da vizinha ta na minha cama... Diz aí Marê o que você vai fazer..." A cantoria segue por boa parte do caminho, até que os combatentes-cantores caem uma a um no sono, mesmo em seus bancos desconfortáveis.

"Eu não quero compromisso, quero namorar", é com a música de Amado Batista no último volume, que acordamos quando o ônibus entra na estrada de chão, já no município de Corumbá. São seis horas da manhã, o Pantanal está amanhecendo. Os tuiuiús, desajeitados com suas pernas grandes, se sacodem em sua magnitude. O jacaré se espreguiça em formato de "U". Eles e os alagados serão familiares de agora em diante.

Garças, pássaros e uma grande ponte sobre o Rio Miranda. Bem-Vindos ao Passo do Lontra. A base da UFMS está logo adiante, com sua estrutura de palafita (casa construída em cima de colunas de concreto, a dois metros do chão). Nos acomodamos nos alojamentos e descobrimos que não éramos esperados. Não havia café da manhã pronto. Para aguardá-lo, vamos para a beira do rio conversar e espairecer. À sombra, num banco de madeira, deslumbramos o paraíso.

Mesmo de cara feia, a cozinheira prepara o café. Depois de comer, vamos à pousada vizinha. Lá, turistas transitam pelas passagens de madeira, construídas em cima dos alagados. Fotos e poses nas passarelas sobre o Rio Miranda. À esquerda carcarás e urubus sobrevoam. A movimentação aumenta, algo de estranho acontece: há um jacaré morto de barriga para cima, um urubu bica seu coro estufado, enquanto os outros animais, inclusive nós, observam.

De volta ao ponto em que deixamos a professora Ruth Vianna não a encontramos. Resolvemos voltar à Base. No caminho, há um trilho e uma espécie de trem que serve para atravessar a ponte de madeira. É nele mesmo que vamos. "Iuupiiii..." Chegando ao alojamento, os pedreiros que trabalham na ampliação do local, dizem que ninguém voltou ainda. Retornamos à pousada e encontramos o grupo. Há um jacaré no alagado. Ficamos a dois metros dele. Ele não se mexe. Parece de mentira, uma estátua. "Ah! Ele piscou!". Jogo uma pedrinha perto dele e ele continua parado.

Agora sim, todos vão para base. Ainda são 9 horas. O tempo das coisas no Pantanal é outro. Tudo é mais devagar, inclusive os ponteiros do relógio. Aqui dá tempo para se viver. Então, vamos dormir e descansar. Levanto quase uma hora da tarde. Desorientado sigo para o refeitório. O grupo conversa e almoça. Despertar e acordar mesmo, no meu caso, só depois de terminar de comer.

À tarde vamos conhecer a comunidade do Passo do Lontra. À beira do rio Miranda, em casas simples de tábua, os moradores vivem longe do resto do mundo. Sem banheiro, sem água potável, sem luz. Os piloteiros-pescadores chegam a ganhar até R$ 2 mil em um mês e no outro podem não ganhar nada. A desilusão dessas pessoas com a melhora do lugar é visível nos olhos e nas histórias de moradores que foram embora. Faço algumas entrevistas para o Comunicação Direta e gravo o encerramento do programa na ponte do Rio Miranda. Mais a frente, uma pousada recebe turistas estrangeiros e cobra fortunas por seus serviços.

Em meio a paisagem encantadora e inspiradora surge o projeto de assessoria para o Passo do Lontra. A natureza mais uma vez surpreende, o urubu que surfa sobre o jacaré morto, já chegou até aqui. Enquanto a correnteza o guia pelo rio abaixo, ela saboreia o jacaré.

Da pousada seguimos rumo a Fazenda Arara Azul, ao som de seu Geraldo, um violeiro singular de 69 anos "Pode ser, pode não ser..." E depois de muitas pontes de madeiras, sobre alagados e jacarés, somos avisados que devemos voltar. Estamos no Rio Abobral, e não daria tempo de chagar na Arara Azul e voltar para o jantar. Criamos uma teoria da conspiração. "Teriam eles nos levado até ali, para nos eliminar?". Inventamos as histórias mais absurdas e rimos.

Logo a frente, mais uma ponte. Em cima dela um bicho de cor parda, imponente. "Uma onça!", grita Marina. O ônibus inteiro se levanta para admirar a rainha do Pantanal. O animal se levanta, assustado pelo ônibus e corre para a mata ao lado. Levanta a perna e mija na árvore. A onça, não passava de um cachorro "que se acha". Retornamos. Atravessamos 30 pontes em menos de uma hora (não é exagero, a gente contou). Em uma delas, o motorista fez todos descerem do ônibus para atravessá-la. Era um terror. Ao descer, vemos uma lontra morta, a única avistada na viagem. Até lobo e bugio vimos, lontra no passo do lontra não. O motorista que tem o apelido de "Ventania" passa pela gente e não para. Ele é cheio das gracinhas, o famoso Joselito sem-noção.

Antes de chegar na base, paramos na conveniência do posto de gasolina. Recarregamos as energias com Skols ou cocas, cada um a seu gosto, e voltamos para nosso alojamento. É hora da fila do banho. Só dois chuveiros quentes, um deles com perereca incluída. Jantamos e depois vamos para a Pousada Passo do Lontra. Lá há sinuca de graça, numa mesa torta, cerveja cara, e espaço para conversas ao ar livre. Na volta, sem sono, brincamos de um "jogo da verdade" que consiste em falar de fatos engraçados da vida do outro. O grande grupo vai dormir e alguns ainda ficam na passarela-sacada conversando e tirando fotos. Finalmente vamos dormir.

Pela manhã do outro dia, café da manhã. Depois, eu gravei mais Comunicação Direta. Aproveitamos e entramos na mata para ver a curva do Rio Miranda. Filmamos a estrutura da base e entrevisto alguns trabalhadores do local. Depois de uma reunião-aula com a professora Ruth, vamos para nosso programa predileto: a pousada vizinha. Todos sentam na passarela de madeira e conversam. Após algum tempo, Jeferson e Bel resolvem conhecer o lugar que há no final da passarela. Eu vou atrás.

Barulhos estranhos de bugio, vento, rio, alagados. "Muitas pessoas morreram construindo essa passarela", dispara Bel. Logo a frente uma placa. "Vão livre, 50 metros". Ela avisa que há uma ponte do tipo "ponte do rio que cai" do Faustão. Atravessamos e fazemos terrorismo com a Bel, balançando a ponte. Um dos momentos mais legais da viagem. Rimos muito. Mais a frente, taturana laranjada pantaneira e cocô de bugio pantaneiro. Depois percebemos que o fim do caminho dá na entrada da pousada, e nos encontramos com o resto do grupo que já estava voltando à base.

Descobrimos que há um prego no pneu do ônibus e que quatro funcionários iriam voltar com a gente de carona, levando suas muitas coisas. Indignação geral entre a galera. Todos arrumam as coisas e reservam seu lugar no ônibus. No almoço, mais música do seu Geraldo. Só ela para aliviar o ardido da pimenta da carne. É escovar os dentes e se despedir da base. Na estrada, o Pantanal se mostra e ainda tem o que ser descoberto por alguns. "Olha o tuiiui, Marina!". Ela era a única que ainda não o tinha visto. E vê dois de uma vez só.

Na estrada, entre reclamações e músicas uma boiada pantaneira. Das grandes. Quase no fim dela, percebemos uma caminhonete cabine dupla que vinha em sentido contrário. As mulheres estão impressionadas com os bois, mas ficam horrorizadas mesmo quando vêem nosso ônibus. Vamos jogando "A palavra é”... O Airton dorme.

Perto de Terenos, cruzamos com um ônibus mais velho que o nosso. É um circo, com desenhos de chapéus mexicanos no ônibus. Atrás, a frase: "Sorria, você está sendo chifrado". A sucata ultrapassando o sucatão foi a cena da viagem. Rimos muito. Quem era o circo? Chegamos sãos e salvos na Capital. As histórias não precisam nem ser contadas para dar risadas, ao ver uns aos outros já começamos a rir. Êta Pantanal...Sim, Vamos Livres!!!

guilherme - 17:03:55
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terça-feira, 25 de abril de 2006

Sem Sentido

"O carnaval de São Paulo vai se igualar ao do Rio em cinco a oito anos", dizia a matéria de uma revista de 1972. A reportagem também constata o fim dos cordões carnavalescos. Falar de carnaval em abril? É hora (quase) de Copa do Mundo, olhe a rua e veja os nacionalistas de verde-e-amarelo. Na TV, os jogadores de futebol fazem comerciais. Nas Casas Bahia, os aparelhos de TV plasma 29 polegadas não duram nas prateleiras. Tudo a 24 vezes sem juros.

Porque comprar? Carioca jamais será como o paulista e vice-e-versa (né Chico?). Não dá e não se deve imitar uma cultura, um ritmo, uma festa. Cada qual tem suas peculiaridades. O feriado serve para recarregar o sono das muitas noites pouco dormidas e para ler um dos muitos livros que estão a sua espera. Também deveria arrumar a bagunça. Mas prefere criar coisas que só ele consome e entende.

Do lixão, a lembrança, a inércia, a matéria por fazer. Falta criatividade? Crise de... Qual era a palavra mesmo? Elas fogem de sua cabeça e se escondem. Não consegue escrever. Relembra o show magnífico a que foi. O êxtase. A realização pessoal. A dança artista e a voz grave da cantora predileta. O vestido rosa cumprido marcando seu corpo roliço. As ondas do cabelo que tem tons mais claros na nuca. A sonoridade da voz, o rosto meigo de expressividade marcante, o carisma, a simpatia. A expressão corporal. A perfeição.

Conhece tudo, sem conhecer nada.

A vida e seu roteiro (melo), suas vivências. O mundo se passa longe de seu mundo. A Rota 66, as florestas, as cachoeiras, a felicidade, os prédios grandes de verdade... A oportunidade de aprender e de modificar realidades não é entendida e acaba "escanteiada". É mais fácil olhar o Orkut...

Na manhã de sábado, a faxina costumeira da qual não participa// Sai. Faz sol, a rua está clara, mais do que o de costume. Mesmo assim não percebe os detalhes, nem repara que não há viva alma fora dos lares. Em uma das casas, música e gente conversando, mas seu destino é outro lugar. Lá também há faxina e a pessoa procurada também fugiu dela. A cara inchada acusa seu estado, acabou de acordar. Volta e vai para Budapeste com escala no Rio. A viagem termina como começa e é intercala por trabalhadores mexicanos engraçados. Dois em um. Diverte-se com antigas histórias repetidas que desta vez são novidades para ele.

A amiga esquecida, a relapsa, a que o julga errado, a que o elogia e a que ele admira, mas sabe que ela vai distanciar. Aquela que ele não sabe definir, a que ele teme procurar, a que ele quer visitar e provar. As relações ele queria poder corrigir, o mundo poderia ser refeito numa folha qualquer com lápis coloridos, a bola de vôlei deslocada, os acontecimentos passam e ele perde. A desilusão com o não reconhecimento. A entrevista que não quer vir. O carnaval de São Paulo que continua querendo ser igual ao do Rio e os cordões que não existem mais e tentam retornar.

Não tente, não há o que entender, não leia (o aviso veio tarde né?). Jogue na lixeira. Só queria passar o tempo e escrever algo qualquer, mesmo que seja tosco... Preencher o espaço.

Até.

guilherme - 12:50:48
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