quinta-feira, 25 de junho de 2009

Um prisma cinza, multicolorido e multifacetado

São Paulo é uma cidade cinza. De uma cor que vai além do lugar-comum dessa frase. Que possui diferentes tonalidades e matizes. Saindo do bege dos prédios antigos, ao cinza claro do céu em dias de poucas nuvens, passando pela fumaça negra que exala dos ônibus, até chegar ao verde do Ibirapuera. Tudo isso misturado com sons, muito sons. Do trânsito, com seus carros e buzinas, do músico de rua, da serenata, do MP3, da jukebox do barzinho brega, das marteladas da construção, da britadeira que demole...

Da gente agitada que anda depressa, da velhinha de passos miudinhos, mal sustentada por uma bengala... E quantas pessoas são, um mar de gente. Todos muito diferentes entre si, estilosos, moderninhos, engravatados, uniformizados, com camiseta do Corinthians, patricinhas, madames, maloqueiros, moradores de rua e esquisitos. Como tem gente estranha nessa cidade.

Onde acabam os prédios? Porque faz tanto frio mesmo ao meio dia? O sol ultrapassa a camada de ozônio mas não consegue driblar a poluição e atingir nossas cabeças? Por que chove tanto aqui?

Hum...Vai-e-vem. Tic-tac... E tudo se repete. O mesmo cara engravatado, com seu fone de ouvido, correndo atrás do ônibus. A mulher de rosto triste entrando no metrô. O velhinho com cara de Papai Noel me olhando com cara de sedutor (sai pra lá!). A estudante bonitinha carregada de livros e tatuagens falando no celular. O morador de rua contando uma história super elaborada ou simplesmente estendendo a mão. Tá todo mundo querendo ganhar um troco.

Ih! Não é nada disso que eu queria escrever. Esse texto já esteve prontinho aqui na minha cabeça várias vezes... Mas não o escrevi nos momentos certos e meu estranhamento com São Paulo tem diminuído. Tenho entrado no ritmo. O cinza e o assombro dos prédios no entorno do minhocão, meu vizinho incômodo, nem me encantam, nem assustam, como antes. Já viciei na paisagem.

As ruas de Higienópolis, onde moram Jô Soares, FHC e Adriane Galisteu, já não me soam tão surreais. Ando por elas diariamente. As gírias e a maneira de falar, vou incorporando. Não possuo identidade oral e uma colega diz que já tenho sotaque de paulistano. Meu, sei não. Tá maluco?!

Cara, como tem maluco aqui. De todos os jeitos, para todos os gostos... Quase sou atropelado todos os dias. Também sou um pedestre meio abusadinho. Agora mesmo, pensando nesse texto, atravessei a rua sem olhar para os lados. Tô ficando maluco igual a eles.

Os paulistanos não conhecem chipa, sopa paraguaia, bozó, sobá e não sabem que Campo Grande é a capital de Mato Grosso do Sul. Tadinhos, não sabem o que estão perdendo...

Não dá para negar que tudo acontece aqui. São Paulo gera as demandas, produz e reproduz acontecimentos para o resto do País. Enquanto nas franjas do Brasil ‘as coisas’ demoram anos para ser reconhecidas e sempre são consideradas meio exóticas.
Tudo que acontece aqui é destaque.

Seu cinza está longe de ser monótono. É um tradicionalismo moderno, arqueado, pichado com cores vivas, com desenhos surrealistas. E se estiver se sentindo sufocado, vá no sentido oposto ao Carandiru, seguindo até a Liberdade. O Paraíso é bem ali, sempre fica a apenas algumas estações de metrô de onde está...

Formiguinha. É assim que São Paulo vai fazendo você se sentir. Ínfimo diante da grandiosidade da Catedral da Sé, da Sala São Paulo (Antiga Estação Júlio Prestes), dos arranha-céus, ou perante a própria cidade.

Se a cor que marca é o cinza, o som que se destaca é a buzina e o odor predominante é o de urina. Mas há também o cheiro de fritura, de perfume francês, das frutas da quitanda, do cocô de cachorro, de poluição, de maconha... Aqui todo mundo fuma um. Nisso, ainda sou muito campo-grandense...

Se acordar de noite, ouvirá o movimento dos carros acelerando, freando e rumando para algum lugar. Para onde essas pessoas todas caminham? Quem encontrarão? Sabem onde querem chegar? Para onde vai São Paulo?

Rápidos e distraídos, assim caminha a humanidade desta metrópole. Ando pela rua e de repente ouço alguém falando coreano, inglês, espanhol, francês... Um judeu. Eles são tão interessantes, tão diferentes. Dizem que são fechados e preconceituosos. Tenho vontade de conversar com eles e saber o que pensam, como vivem, essas coisas... Outra personagem que me atrai é a Maria, a louca que espalha seus papéis com frases indignadas pelas ruas de Santa Cecília. Ainda vamos trocar umas palavras que serão reproduzidas aqui...

Lá do outro lado tem o Ibirapuera (e quantas coisas mais?), mais ali o ABCD e caminhando mais um pouco chegamos ao litoral. O resto é interior e gira em torno daqui... (Um dia o paulistano vai deixar de pensar assim e descobrir que o Brasil não é apenas a Capital de SP?)

Quem conta as 17 milhões de pessoas que circulam por aqui? Alguém percebeu que agora a cidade tem mais um? Ei, eu não quero ser mais um! Mas não é fácil conseguir um lugar ao sol com tantos dias nublados. Quanto clichê num texto só!?

Então, se Campo Grande é a Cidade Morena, São Paulo é a cidade preta. Pelo menos, essa é a cor do pó que tiramos das nossas casas. Cor da poluição, que também pode entrar na cota do cinza lá do primeiro parágrafo. E se eu acabar esse texto aqui, vão (vou) me criticar que escrevi tudo isso para confirmar o óbvio: São Paulo é uma cidade cinza, mas tão colorida que até confunde e ofusca a visão!

Entre Aspas: Eu tava só, sozinho. Mais solitário que um paulistano... Zeca Baleiro na música Telegrama.
Entre Aspas 2: Sem São Paulo, o meu dono é a solidão. Finho e Ari Baltazar na música São Paulo.

[Outras possibilidades de título para este texto juvenil:
São Paulo é aqui!
Muito além do cinza de São Paulo
São Paulo, essa desconhecida
São Paulo civiliza-se (ótima frase do livro A Arte de Tecer o Presente de Cremilda Medina)]

3 comentários:

Guilherme disse...

Queria ser breve e constante como a Marina. Mas não adianta sou prolixo e desregrado.

Unknown disse...

HHAuhauhauhauauah... minha brevidade se resume aos posts, vc sabe!!!
Que bom que voltou a escrever, adoro seus textos...
Mesmo sem nunca ter ido à São Paulo, me ambientalizei agora...
Bjux sempre!

Barone disse...

É... São Paulo sem tirar nem por. Retribuo a visita. Gostei. Voltarei.