segunda-feira, 19 de abril de 2010

Nublado, com possibilidade de chuva


As pessoas ficam cinzas em São Paulo.
É como se com o tempo suas caras fossem sendo pichadas e ficassem carrancudas e melancólicas como os milhares de prédios enfileirados pela cidade.
São tristes, de céu fechado, sempre prestes a chover.
Escondem-se nas sombras do concreto.
Falta-lhes sol, calor, motivos para sorrir...
São muitas.
Dormem cansadas nos ônibus, atropelam-se mal-humoradas na entrada do metrô, buzinam incessantemente no cruzamento atravancado...
Ostentam seus casacos marrons, as jaquetas pretas, as camisetas grafite, os corpos tatuados, os rostos barbudos, a face escondida por franjas, os olhos por aros grossos dos óculos, a cara nublando.
Saem de todos os lugares e colorem a cidade com seu monocromatismo.
O tempo, os prédios, as construções, as pessoas... Tudo parece um único e extenso céu que se encobriu num eterno outono.

[5/4/2010]

Entre Aspas: [Em São Paulo] Na falta de horizonte geográfico, o horizonte humano se estende. Paulistana lembrando que o céu da cidade vai além do que está sobre nossas cabeças.

Nenhum comentário: