domingo, 23 de maio de 2010

Café*


Era uma tarde de domingo, o que deixava tudo com ar mais grave. Chovia. E isso tornava o clima ainda mais tenso. Passos carregados de água, carros cortando as gotas e o café quente descendo a garganta fazem seus olhos se arregalarem ainda mais. Poderia assassinar alguém para aliviar tudo isso. Um desconhecido ou aquela atendente feia que insistia em não olhar nos seus olhos?

Precisava ser logo. O azul escuro predominava o céu, anunciando o preto da noite. A mesma cor da camisa que vestiu no outro dia para ir ao enterro de sua vítima. Costumava fazer isso. Aquela moça sem graça nunca mais serviria cafés com cara azeda. Não voltaria a esquivar-se de responder “boa noite”, “obrigado” e “por favor”, lançados por ele. Ao ver o caixão aberto, surpreendeu-se com uma característica: esboçava um sorriso. Ato que nunca a viu fazer em vida. Pelo menos, não nos 15 minutos em que conviveram. Saiu do cemitério com a sensação de dever cumprido: mais uma alma estava liberta.

[14/03/2010]

*Amanhã, 24 de maio, é comemorado o Dia Nacional do Café.

Entre Aspas: Uma tarde de domingo mora dentro de mim. GSD.

Um comentário:

Luciene* disse...

Uauuu, Gui, adorei. Essa segunda-feira está tão cinzenta quanto aquele domingo e ainda mais tensa...hehehe. Parabéns.

*Via Twitter