segunda-feira, 5 de dezembro de 2011

O jornalismo e a beleza

O anúncio da saída de Fátima Bernardes do Jornal Nacional foi um dos assuntos mais comentados da semana passada e abriu um leque de discussões. Uma delas, a mais óbvia para alguns e que passaria desapercebida para mim, é a questão da ditadura da juventude. É como se Fátima prestes a completar 50 anos estivesse ameaçada por um time de jornalistas jovens ou que seus tratamentos de beleza, botox e plásticas (nunca saberemos ao certo que técnicas utiliza) não surtissem mais efeito e pressionada por esses fatores ela precisasse pedir para sair.

Foi o que comentou uma amiga jornalista e feminista (com quem tenho opinião semelhante em diversos assuntos), logo quando soube da notícia. Na hora, discordei internamente e só disse que eu, enquanto telespectador do JN, ainda não achava Fátima velha e nem madura demais. Ela envelhece bem e ainda tem ao seu favor representar a sagrada família, ao lado do seu marido, editor-chefe e apresentador Willian Bonner. Nada mais adequado e ainda não abalado pelo tempo. Mas no dia seguinte à notícia e ao comentário dessa amiga, a jornalista Nina Lemos emite a mesma opinião em sua coluna na Folha Online (http://migre.me/70u1g). Nina tem sempre textos muito pertinentes e com os quais costumo concordar com cada frase (vide o texto sobre a morte do Natal, com a não exibição de um especial inédito do Roberto Carlos neste ano na Globo).

Eu discordo dessa vez por que a questão me parece preconceito às avessas. É como eu achar que toda vez que sou preterido de um emprego, isso acontece por que sou negro. Not. Isso pode até rolar, como já ocorreu, mas seria muita síndrome do vitimismo considerar a máxima verdadeira em todos os casos. Assim é com Fátima. Poderia até ser verdade que ela estava pressionada por não ser mais jovem, mas levantar essa hipótese me soa exagerado, mesmo consciente de que a ditadura da juventude é forte e impiedosa.

No caso de Fátima, ninguém discutiu seu protagonismo e coragem de dizer: cansei de apresentar o principal telejornal da emissora líder de audiência do País, quero outro desafio. Não há coisa mais admirável do que alguém que não se sujeita ao comodismo e almeja sair da zona de conforto em busca de novos prazeres. Ponto para Fátima.

Bonitinha, mas...

Com a saída de Fátima surgiu uma outra questão que provocou os ‘ânimos’ dos brasileiros: quem a substituiria? Renata Vasconcelos, apresentadora do Bom Dia Brasil, e sua beleza refinada, Ana Paula Araújo, apresentadora do RJTV, com sua ‘juventude carioca’ ou outra apresentadora mais desconhecida? Nada disso. A opção foi Patrícia Poeta. A bela apresentadora do Fantástico. Nova pausa para considerações: a principal delas é de que a moça está mais alinhada à linha informal que combina com entretenimento do que a linha mais séria do jornalismo feito no Jornal Nacional. Verdade. Neste caso, a apreensão tem razão de ser. Não dá para transformar o JN no Fantástico e misturar historinhas de ficção no meio do noticiário. Talvez Patrícia Poeta sobre (ainda mais) no JN. Talvez...

Mas a moça também foi corajosa ao trocar a apresentação do Fantástico pelo JN. Ela sabe que seu mérito é justamente essa informalidade e já declarou que terá que se conter. Mesmo assim topou o desafio. Ponto para ela também, que já tinha seu espaço consolidado no dominical e semana após semana emplacava ideias, entrevistas e vestidos que se tornavam assunto. No JN tudo isso será mais limitado. Cintos e vestidos serão banidos.

Perdem as mulheres que acompanhavam suas roupas. Perdem os homens que prestavam atenção nas suas curvas. Para um colega, atrás da bancada, Poeta perderá um dos seus principais ativos. Com um quê de machista, o comentário resume a opinião de muitos. De acordo com o blog do Daniel Castro no R7, a escolha de Patrícia não agradou aos colegas da Globo, que acreditam que a jornalista é “bonita, simpática e só”.

E só? Como “e só?”. Ou parece fácil ter empatia com o público. Para agradar não basta ser bonita, precisa realmente ter carisma e empatia, coisas que não se compram por aí, nem se aprendem em cursos. E mais do que isso: é como se a beleza fosse um problema, como se isso reduzisse a competência da jornalista. Isso mesmo, estou dizendo que a Patrícia Poeta foi escolhida para substituir a Fátima no JN porque é competente no que faz: apresentar telejornais. Ser bonita e simpática é grande parte disso, mas a tal da empatia e técnica são essenciais.

TV é também entretenimento e mesmo no jornalismo criticamos apresentadores pela sua postura, pela falta de empatia, pelas roupas e até pela não-beleza (o último quesito é crime maior para as mulheres. Aqui sim, deveriam entrar os comentários feministas). No caso de Patrícia há ainda outro agravante: o fato dela ser casada com Amauri Soares, diretor da Globo internacional.

Acredito sim, que isso a ajudou quando era moça do tempo e foi turbinada à correspondente em Nova York e até depois quando virou apresentadora do Fantástico. Mas não a manteriam lá se ela fosse um erro, não agradasse e não cumprisse minimamente seu objetivo. Assim como ela não seria alçada agora à apresentadora do JN só por ser esposa do cara, só por ser bonita...

Ela também é isso, mas é mais. Vai além nas suas entrevistas (que contam com ajuda da ótima produção do Fantástico, mas com sua personalidade também) e nos quadros que gerou (mesmo que não gostemos da mistura de jornalismo com entretenimento).

Claro, que se espera credibilidade da âncora do principal telejornal do país. E nisso Patrícia ainda tem um caminho a ser conquistado. Não que já tenha deslizado gravemente em algum momento ou que a beleza a atrapalhe nisso, mas a jornalista teve sua carreira calcada em matérias ligadas a entretenimento e, com exceção das entrevistas, é difícil lembrar de alguma grande reportagem de Poeta.

Esse texto ficou grande e até parece uma defesa da nova apresentadora do JN. De certa maneira é, apesar de eu preferir a Renata Vasconcelos no JN. Mas é uma defesa de que alguém bonito pode conseguir um posto de destaque por outros atributos também. Além disso, acho que o estilo Patrícia Poeta sobra um pouco, assim como Tiago Leifert, outro apresentador com estilo informal bastante definido, filho de diretor da Globo, mas que também se firmou por sua competência.

No mais, agora é torcer para que Patrícia sobre menos no JN, não sufoque o Bonner, o jornal e também que não tenha seu estilo completamente sufocado, ou deixaria de ser ela. Eu ainda balanço com a vinheta do jornal e adoro assistir sua escalada. Claro, que vejo vários pontos que poderiam ser melhorados no jornalístico, a começar por uma cobertura mais nacional e menos eixo RJ-SP-Brasília. Mas o JN ainda é referência e continuará sendo assim pelos próximos anos, gostemos ou não.

PS: Não esqueçamos que com o troca-troca da Globo, quem assume o Fantástico é Renata Ceribelli, de 47 anos. Ela indiscutivelmente ganha o posto pela competência já demonstrada, já que não é o tipo bela-fatal, mas também teve seus dias de se adequar a outra parte da ditadura da beleza que é o da magreza, ao participar do reality Medida Certa, dentro do dominical.

Um comentário:

Laiana disse...

Gui... como isso hein... estamos longe em muitos sentidos, mas ainda pensamos bem parecido. Tb li a coluna da Nina e não concordei plenamente. Claro, como vc disse, que a blz é sim um fator determinante para a ocupação de postos de destaque na TV, mas, quanto à saída de Fátima, o principal ponto que me chamou a atenção foi exatamente a possibilidade de, sim, ter sido ela que tenha tido a coragem de pedir pra sair, pq não estar mais satisfeita com o trabalho... Isso me lembra um cara que eu admiro pra caramba...