sábado, 10 de dezembro de 2011

O Pará quer se separar - e eu não sei “nada” sobre isso

E eu com isso? É um dos temas mais pujantes da atualidade e nada, ou praticamente nada sobre ele é publicado na mídia nacional. Eu, aqui, com sede do assunto, e pouco recebo dele. Ou não é importante um dos estados da federação estar prestes a ser repartido em três? A última vez que isso ocorreu foi nos idos dos anos 80 com Goiás, e o nascimento do Tocantins.

No País do conformismo, do “está bom como está”, uma região querer se separar deveria ser notícia, tema de estudo, de série de reportagens, de explicações. Digam-me o que está acontecendo, please! Mas a imprensa paulistana, dita nacional, pouco está aí para a possível separação do Pará.

Pará? Mal ligam para ele. A distância geográfica do segundo maior estado do Brasil impede que muito de nós tome partido. É como lembrou uma amiga minha sobre o Acre determinada vez: “Se alguém quisesse tomar o Acre do Brasil, como eu iria brigar por ele? É como um primo de 5 grau brigando. Mesmo sendo da família, não tenho a menor intimidade e pouquíssima ligação para brigar por ele”, disse. A frase me incomoda, mas não consegui tirar a razão dela.

O Pará assim como o Acre é um lugar exótico para quem mora no eixo Rio-SP. Exótico simplesmente por ser desconhecido, pouco desbravado e – ressaltemos – pouco coberto pela imprensa. (Isso é causa ou consequência dessa nossa ignorância sobre as terras do Norte?). Exótico como nos faz crer essa matéria sobre o primeiro shopping em Rio Branco (http://migre.me/75XRu). Uma fina ironia e sadismo me faz rir da reportagem, me deu um pouco de dó, mas também me culpa por só reforçar um pré-conceito contra a região. “O Acre existe?”, questiona alguém no sofá.

Mas o assunto aqui é o Pará, não é mesmo? Quem me conhece sabe que tendo a ficar do lado dos menos favorecidos. De longe e com poucas informações fica difícil saber quem é “minoria’ e/ou quem “merece ganhar” no caso da divisão do Pará.

A favor da criação de Tapajós e Carajás está o fato que os últimos estados a serem criados (Tocantins e Mato Grosso do Sul) serem unidades federativas bem sucedidas. Nesse quesito, ser sul-mato-grossense ajuda a ficar deste lado, já que para mim é imaginável pensar a antiga região sul do Mato Grosso dependente até hoje da longínqua Cuiabá. A luta por essa divisão é antiga e remonta da guerra do Paraguai, nos idos do século XIX.

Se a luta pela divisão no Pará é histórica, eu não sei. Tampouco se há diferenças regionais gritantes e culturas entre cada parcela do estado que justifiquem essa mudança. O fato é que Marabá (capital hipotética do estado de Carajás) é uma das cidades mais violentas do País. A região tem um histórico de conflitos agrários, do massacre de Eldorado dos Carajás, em 1996, ao assassinato de Dorothy Stang, em 2005.

Santarém possui uma ligação maior com Manaus, capital do vizinho e “rival” Amazonas, do que com a distante Belém. Penso o quanto é injusto essas regiões pertencerem a outra com a qual pouco se identificam. Também acho que o argumento de que essas regiões são compostas por pessoas de outros estados – Maranhão, Piauí, Tocantins, Ceará e Rio Grande do Sul, principalmente – não é demérito para a campanha.

Aliás, é um reforço. Com Mato Grosso do Sul também foi assim e isso era um dos fatores para a parte sul pouco se identificar com a capital e porção norte do estado. Que culpa têm os migrantes de outros estados, se os paraenses pouco se interessaram pela região e preferem migrar para outros locais do que para o interior do estado?

Além disso, é justo que para ser dividido precise haver consulta em todo o estado e não só nas regiões que querem se separar, já que o entorno de Belém é mais populoso e tende a se opor a criação dos novos estados? Não seria como o Brasil ter que consultar Lisboa sobre sua independência? Acho que os portugueses não iam gostar muito...

Do lado contrário, a favor da continuidade do Pará como está, tem o fato dos novos estados serem apoiados pelos exploradores do agronegócio, das empresas de papel e celulose e um forte indicativo de que a criação de Tapajós e Carajás iria beneficiar somente a elite dessas regiões. Nenhum pouco justo, não é mesmo? Somado a isso há os estudos que apontam o déficit orçamentário dos novos hipotéticos estados e de que nós é que pagaríamos a conta.

Há ainda a questão ambiental. A população da região clama por desenvolvimento, mas, infelizmente, desenvolvimento, ainda significa desmatamento, pouco cuidado/preocupação com o meio ambiente e instalação de culturas que batem de frente com a floresta Amazônica, grande riqueza do local. Mas o Mato Grosso do Sul possui 66% do Pantanal e nem por isso acho que ele deveria ter ficado junto com o Mato Grosso, ser fadado ao ostracismo, ao não-desenvolvimento e/ou a pouca ocupação habitacional.

A questão é complexa, mas o lado ambiental e da preservação da floresta deve ser levada em conta também. A presença do poder público mais perto dessas áreas, talvez, pudesse garantir uma maior preservação (é quase inocente essa consideração, não é mesmo?) e o desenvolvimento humano.

As melhores colocações sobre o caso vêm do jornalista Gustavo Patu, em coluna na Folha de São Paulo de hoje. “Talvez constatemos que divisas e fronteiras, entre as quais vivemos e com as quais se procura identificação, são meros arranjos políticos, temporários e casuísticos”.

E ainda arremata, exatamente com o sentimento que divido: “Talvez o incômodo no caso venha da necessidade de fazer escolhas sem clareza quanto aos prós e contras, se uma oportunidade única ou a catástrofe”.

Para quem quer saber mais sobre o assunto, vale a pena ver esse Observatório da Imprensa (http://migre.me/75YAk); dar uma olhada na cobertura da Folha http://migre.me/75YB1 (que mostra um infográfico com a divisão de outras unidades da federação e de criação de mais estados) e ver as matérias do JN no Ar http://migre.me/75YEL, que esteve na região.

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